Google+ O Riso e o Siso

quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Vida de Condomínio: O substituto do substituto

Correram com a síndica daqui. Algo a ver com imagens comprometedoras com uma mandioca, me parece. Ouvi do corpo administrativo que havia algo estranho nas contas do condomínio. Tiraram-na do cargo. Após perícia não encontraram nada. Quando questionados: -Mas você não acha estranho que não tenha nada estranho?
O fato é que assumiu o subsíndico que, comprovadamente possuía coisas estranhas no histórico. Digo não apenas com relação financeira, mas sua própria história que remontava a mais de dois séculos. As crianças do condomínio o chamavam de Conde Drácula, e o que mais me impressionava era o fato de elas terem essa referência, já que histórias de vampiro saíram de moda. Hoje só se fala em zumbis.
E por falar em zumbis, o novo síndico, escolhido para substituir o substituto, parece mesmo um. Seu Maldonado, militar reformado, anda por aí meio sem esquadro balbuciando asneiras e se comportando como um descerebrado.
A criançada já atribuiu diversos apelidos além do zumbi. Chamam-no Celenterado. Eu que, confesso, não sabia o que era isso, encontrei no dicionário "Os celenterados não apresentam cérebro ou centro coordenador dos impulsos nervosos. São animais invertebrados que apresentam uma simetria radiada e cujo corpo tem uma única cavidade gastrovascular. Esta cavidade comunica com o exterior através de um orifício que funciona simultaneamente como boca e como ânus". Fiquei pasmo com a lucidez dessa garotada.



Mas prefiro o apelido de zumbi, me parece mais higiênico. O pior é que a comparação é tão aproximada que este síndico costuma perseguir quem aparenta ter cérebro. Eu que já estou cansado de confusão, me finjo de besta e começo a babar toda vez que ele passa. Ele parece me adorar. Um dia me abraçou em público e disse para todo mundo: esse é um dos meus!

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Coloca a viola no bolso

Perdi a noite tentando entender a frase. No bolso não cabe nada. Viola carrega na mão, no bolso nada. Roubou minha noite, a frase. Sei que esses provérbios tentam enriquecer nossa compreensão. Mas não cabe. Que ódio, que angústia. Ficar imaginando uma viola tentando entrar no bolso. O que isso quer dizer?
Acho que não tem nada a ver com a viola. Ultimamente, a palavra bolso me dá calafrios.

terça-feira, 2 de outubro de 2018

Quem é seu candidato no Game of Thrones?


Ned Stark (Ciro Gomes): vem lá de cima do mapa, é meio rústico, todo mundo tem uma queda e torce pelo cara, mas tudo indica que vai sair prematuramente.

Robert Baratheon (Bolsonada): Fanfarrão e falastrão. Frequentemente grosseiro e violento. Não costuma tratar bem as mulheres e usa do poder pra comer gente. Diz que guerreia muito mas perde para um porco. Quer subir ao trono à força e não se importa se vai parecer golpe já que não foi ele quem sujou as mãos.

Stannis Baratheon (Alckmin): Velho, tradicional. Não suscita paixões e acha que pode subir ao trono invocando a lei. O problema é precisar de malabarismos argumentativos para isso. Vem da mesma linhagem (direita) de Robert mas não consegue inspirar. Subiu para o norte para tentar se legitimar no trono, mas mesmo assim não deu.

Tyrion Lannister (Marina): inteligente mas toma atitudes duvidosas, fazendo a gente questionar se é heroina ou vilã. Sumiu por um bom tempo depois de umas cagadas, o que fez a turma questionar sua legitimidade.

Daenerys Targaryen (Fernando Haddad): tem o nome difícil de pronunciar. Com a beleza de encher os olhos, quer recuperar o trono usurpado. Vem comendo pelas bordas e seu maior poder é o dragão, que mantém preso, capaz de arrastar multidões.

Rob Stark (Boulos): começou a carreira cheio de energia, tomando uns castelos. Jovem, impetuoso. Pela inexperiência nos jogos, não botam muita fé, e vai sair prematuramente.

Renly Baratheon – in memoriam - (Aécio): bonitão, arrancava suspiros das moçoilas. Bon Vivant, adorava uma farra. Foi morto pela bruxa vermelha antes mesmo dos jogos começarem.

Os Outros (Meirelles) – Uma figura um tanto assustadora, não se sabe se está vivo ou morto. Aparece pouco, as pessoas duvidam da existência, por isso mal é citado nas pesquisas. Sua grana faz os mortos ressuscitarem.

Mindinho (Amoedo) – O cara da grana (alheia). Uma figura conhecida nos dias de hoje como banqueiro. Não se sabe se é vilão ou herói. Parece do bem mas joga as pessoas pela janela quando a situação aperta. A casa que representa não tem muita tradição nos jogos.

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Vida de Condomínio: Sardinhas

Mandei carta para o Projeto Genoma Humano. Eles precisam estudar essa espécie mutante de condomínio. Algum gene recessivo perdeu essa qualidade e se tornou dominante fazendo com que tantas pessoas assumam personalidade de sardinha! É impossível ver um elevador lotado e não tentar se espremer. A placa diz bem claro: lotação máxima 8 pessoas. Mas sempre cabe mais um: esse é o lema desse povo. Devia estar escrito na fachada do prédio. "É tudo magrinho", eles dizem.
Não tem nem pra você! Não chame mais gente pra entrar!
Logo 12, 13 pessoas se espremem numa caixa metálica pendurada por cabos de aço e içada por um motor projetados para um peso de 8 pessoas.
Uma vez ouvi: Ah ele já está acostumado!
Caramba! Aquilo é uma máquina, tem um motor lá em cima. Não é uma pessoa que se acostuma com o peso e cria músculos! Pior, se já está acostumada quer dizer que há tempos eles usam o elevador com sobrepeso. Os equipamentos estão desgastados acima do normal. É um milagre não estamparmos a capa do jornal com um desastre.
Subi rezando para não ser aquela a minha última viagem. E olha que sou ateu.
Deve ser busca por adrenalina. O gene sardinha nas pessoas se sente meio entediado de não haver tubarão ou outros predadores na redondeza e obriga o infeliz mutante a se arriscar num Bungee Jump claustrofóbico.
Mas de certa forma me respondeu o por quê de dar tanto problema nos elevadores. Ele foi planejado para aguentar oito pessoas, se você for generoso e apinhar mais um tanto você está correndo risco de se matar e matar aos outros (que coisa mais generosa, hein). Além do mais, os custos dessa sua "generosidade" amanhã serão terríveis.
A galera do meu condomínio não curte muito planejamento, acha que as regras são só pra gente burlar. É uma coisa que inventam para treinar nossa capacidade de resistência. Quando dá merda, culpa o corpo administrativo. E se o corpo administrativo aplica multa, também leva chumbo.
Corre rumores que o síndico anterior trocou a plaquinha que era limite máximo de seis pessoas, para não precisar gastar com reformas e reestruturação, tudo com apoio do corpo diretivo que são os mesmos há décadas. Não duvido.
Aí os anencéfalos fazem videozinhos no youtube colocando a culpa na síndica, querem impeachment, chamam forças armadas, planejam golpes com o subsíndico. Fica uma histeria coletiva na reunião de condomínio por causa dos gastos excessivos com manutenção.
A turma dos últimos andares querem desconto na taxa condominial, dizem que são eles quem bancam o condomínio porque são poucos moradores, logo o maior desgaste está por conta dos andares mais baixos e estes que deveriam bancar o custo. Outros reclamam que a culpa é dos inadimplentes, e acrescentam que o corpo diretivo não devia ter isenção.
Essa discussão só acaba quando passa o Seu Maldonado do vinte e quatro, ex Capitão do exército e membro do conselho administrativo, há trinta anos sem pagar condomínio. Aí o assunto das dívidas e finanças dá lugar às reclamações por causa dos gays, negros e mulheres que deveriam usar a escada para não atrapalhar os moradores dos andares superiores, e todo mundo parece concordar. Dizem que logo ele se candidata a síndico e leva a eleição.
Já encomendei a plaquinha "Arbeit macht Frei" pra por na entrada.

terça-feira, 17 de maio de 2016

Tatuagem de carpa

Eu tentei dissuadi-lo da tatuagem de carpa.
Quando ele me falou que queria fazer uma tatuagem achei meio complicado: o moleque é um descabeçado. Esperava que ele fosse pedir uma tatuagem de algum famoso capa de revista. Seria uma lástima, com certeza, mas talvez, menos vergonhoso.
Por que carpa? Ele respondeu que era da yakuza, embora achasse que yakuza era uma gangue, mal diferenciava se era chinesa ou japonesa e desconhecia a definição de máfia.
Eu não tenho muito conhecimento do assunto, mas me lembro que na yakuza eles tatuam o corpo inteiro, ele teria dinheiro e coragem para tudo isso? Seria aos poucos, mas também não precisava ficar igualzinho, ele disse.
Não sei, não sou especialista nem nada, mas isso soou ruim.
Pensei em sugerir um projeto de futuro mais honesto, mas lembrei que há pouco o menino dizia que seria vereador. De fato, agora compreendo que seu apelido de Deputado, na escola, não devia significar boa coisa.
Que tal um futuro mais saudável? Ele se interessava por essas coisas, musculação, alimentação.
-Que é isso pai? Acha que eu tenho cara de professor de yoga?
É, não tinha.
O moleque estava resoluto. Aos dezoito anos de idade havia juntado dinheiro e decidido sua estampa. E eu não podia fazer muita coisa, as dezenas de argumentos racionais eram rebatidos com frases de efeito e muita filosofia de autoajuda. Abri mão.
-Vai fazer a carpa onde? No braço?
-Não pai, aqui, na barriga, metade na costela... disse apontando para o lado direito do tronco
Ouvi dizer que é bem no lugar que dói horrores. Tentei alertar, mas foi pior. O moleque acha que dou conselhos para faze-lo mudar de ideia: ficou ainda mais resoluto.
Ele me disse que o tatuador deu o mesmo aviso. Mas meu adiantamento só havia deixado o descabeçado mais vacinado. Por isso falou com toda panca:
-Pode fazer cara! Eu sou ruim!
O artista passou o primeiro traço começando pela barriga, para ir acostumando o valente com a dor. Desenhou o rabo e foi subindo. O moleque mordia os beiços.
-Caramba, é isso mesmo?
Pois é, a dor começou insuportável para aquela pele tratada no Todinho e creme hidratante. Quando o traço do corpo já estava feito, viria a parte mais dolorosa, a cabeça seria desenhada na costela.
Na primeira picada o moleque gemeu. Gritou. Pediu a Deus e Nossa Senhora. Desistiu.
Ganhou uma linda tatuagem dos contornos de um peixe sem cabeça e o apelido de Bacalhau.

domingo, 10 de abril de 2016

Ahh a televisão...


Ah a televisão!
Essa incrível invenção que conseguiu muito mais que o nosso sistema educacional jamais pode: diminuir a taxa de natalidade!
A natalidade diminui nos grandes centros e a crise se instala. Não nasce gente, não tem quem sustente a previdência. A Europa está em crise, os Eua estão em crise e o Brasil está em crise. Quer dizer, o Brasil sempre esteve, mesmo antes da televisão.
Nos lugares onde mais se insere a televisão, menos se faz crianças. Não que ela afete os testículos, ovários, nada assim. Ela tira seu foco das coisas que você faria se fosse uma pessoa normal. E acho até que afeta a indústria: você produz menos porque perde o sono. Quer dizer, eu, pelo menos, perco o sono.
É interessante como a melhor programação da TV é de noite! Quando você passa o dia de cama, doente, precisando de mão amiga, a TV (e estou incluindo a TV a cabo) é um deserto de duzentos canais. E se não fosse o fato de estar doente, questionaria seriamente a relação custo x benefício. Não há um programa que te console. Mas quando se está bem, é só deitar precisando acordar cedo no dia seguinte e as mil maravilhas brotam na sua tela. Até o canal do boi fica interessante. Nos canais católicos as sonolentas rezas se tornam psicodélicas. Tudo te atrai. Tudo te seduz. É dificil você apertar o botãozinho de desliga e ficar com a sensação de que está perdendo o programa que irá mudar sua vida. Aquilo que vai te dar uma perspectiva nova de realizações e sucesso na redecoração do banheiro ou na forma de acumular lixo. E, quando passa da meia noite, o canal multishow faz você esquecer do sexo com a esposa assistindo sexo de outros casais.
Tudo se torna possível à noite na TV: a polícia trata os pobres como cidadãos, os heróis matam vitoriosa e dolorosamente os vilões, e o Amaury Júnior se entusiasma com a riqueza dos outros. Tudo é belo nesse reino de fantasias e você não pode perder, nem um segundo. E você sabe que acordará no outro dia com ressaca moral por ter ficado até tarde, assistindo pela terceira vez aquele filme horrível com um final de merda. E mesmo assim você fica. E daí vem o programa do Gentili, que você acompanha com atenção para não perder a piada, quem sabe não compensa a noite. e vai ficando cada vez mais tarde, e a hora de acordar já vem se aproximando, e a piada não chega, quem sabe ela não compense o dia também, e você não desvia a atenção para não perder o momento, e o dispertador já está te censurando, e a piada não surge, e ela vai ter que compensar o dia seguinte também, e o riso não sai e a madrugada vai passando e o programa vai acabando, e você não viu ou não entendeu porque não riu, e acabou o programa e está na hora de desligar. Não teve graça, não teve humor. Amanhã acorda de mau humor e a sensação de que talvez a graça estivesse em outro canal. Qualquer outro canal, menos aquele que você assistiu. Menos no canal do pastor que promete a graça, mas que não tem graça nenhuma.
Aí eu digo: prefiro dormir à tarde, já que não tem programação que preste. E, ainda por cima, só pra me certificar, deixo ligado no Vídeo Show que é pra provar que eu estava certo.

domingo, 20 de março de 2016

Tempos estranhos, sonhos estranhos.

Sempre me dizem para não exagerar nessas coisas, principalmente antes de dormir. Enquanto assistia sobre a manifestação pró-Dilma, exagerei na massa, recheada com frios pesados, feito calabresa, e assentada com refrigerante. O refluxo me acordou de madrugada. Na verdade, ele pretendia subir de patente, ao que me acordou. Nessas horas imagino o doutor Dráuzio Varela me dando um sermão em seu consultório/programa da Globo. Sentei-me à cama para evitar o enredo e me lembrei do que sonhava. O Lula rebolando para não ser preso; a merenda da escola se somava a outros escândalos; manobras para não ser preso; uma multidão de farda preta - neonazistas - tentando espancar meus alunos adolescentes; alguém que me tentava explicar que o juiz possuía fortes ligações com o PSDB, coisa com o pai ou a esposa; ; um senador que tudo em que tocava virava pó; e mais alguém tentando me explicar como o preço do caviar estava elevado, se lambuzando com uma colher de ouro à boca; a dona Marisa havia sido grampeada e a Dilma também, e escandalosamente eu não conseguia ouvir o áudio que as incriminava; eu chamava pelo Chapolin Colorado; e outra multidão de neonazistas se gabando por espancarem pessoas de vermelho; e eu já não tinha heróis para me socorrer; enquanto isso eu pensava no Dr. Dráuzio e que eu não devia ter comido tanto, e eu sei que ele só queria me proteger embora não fosse da polícia; e outro grupo de neonazistas, mais à frente, skinheads declarados pelas faixas esticadas, tirava fotos com a PM; a imagem da notícia de que os deputados que julgariam a corrupção eram patrocinados pelas empresas corruptoras; e outra pessoa comemorava o recorde de vinte e oito segundos que um juiz levou para dar uma liminar; e um outro vazamento de áudio de uma conversa corriqueira me fazia temer estar sendo grampeado, não que eu deva algo, mas é que às vezes passo minhas senhas por telefone, para familiares e falo sacanagens que poderiam ser mal interpretadas; e eu pensava no Dr. Dráuzio e que eu não devia ter comido aquilo; todo mundo era vaiado pela multidão, mas o Bolsonaro era aplaudido por falar em estupro, tortura e homicídio; o Dr. Dráuzio me recriminava; alguém me falava em limpar a sujeira com água suja, e eu trocava a cueca por outra suja,
alguém que me dizia que tudo era sujo, e outro alguém havia postado que bolsomito era neologismo de Bolsonaro com vomito. O refluxo não me deu trégua, e até agora não sei se foi pelo que comi, o que vi ou o que pensei. Tempos estranhos, sonhos estranhos.