Google+ O Riso e o Siso: julho 2012

terça-feira, 31 de julho de 2012

Tempos de novidades

O pai tinha uma agenda. O filho caçoava. O pai marcava ali todos os nomes, contatos, aniversários e compromissos. O filho apresentou-lhe o computador. O pai cadastrou todos esses dados no computador para que este facilitasse sua vida e o lembrasse das coisas importantes. O filho caçoou, apresentou-lhe o Facebook.
O pai agora tinha uma rede social. Todos os contatos e amigos perdidos no virar da folhinha de calendário estavam agora ali. Quer dizer, devido às dezenas de folhinhas viradas, muitos desses amigos eram avessos à tecnologia ou já haviam ido debater com o Criador. Mas os que restavam nesta Terra estavam devidamente adicionados ou em vias de. E agora o facebook seria uma espécie de agenda, controle de eventos, mural de recados e notícias, lembrete de aniversários, tudo num lugar só! Quanto tempo seria poupado! Era só ele verificar as notificações (algumas nada tinham a ver com ele, mas, enfim, era algo contornável, um desperdício de poucos segundos), verificar as mensagens e os pedidos de amizade (mais alguns poucos segundos) de gente que ele não conhecia e não possuiam nada que os tornasse interessantes - tudo bem, é uma boa oportunidade de ampliar a rede de contatos, vai que calha de aparecer alguém interessante - depois disso, uma breve verificada nas atualizações e postagens dos amigos - outro pouco de tempo jogado fora, eu confesso, pois a maioria dos posts eram auto-ajuda, memes (e ele nem sabia o que isso significava), provocação de times, animais torturados e crianças mal-tratadas - aí sim, ele teria concluído sua rotina e economizado tempo, graças a essa maravilhosa ferramenta. Dalí, apareceram alguns aplicativos, e ele precisava decidir se os aceitava ou não.
A cada dia eram mais notificações das atividades dos amigos e de desconhecidos, amigos dos amigos. Alguns segundos somados aos segundos perdidos para tal rotina. E também recebia uma gama de aplicativos, para fazerem tudo aquilo que sua agenda fazia, que o computador fazia, que o facebook fazia, mas, por algum motivo oculto nas leis do universo, estavam ali, nas suas notificações; enviados por amigos; para desempenharem funções já desempenhadas. Mas ele acreditava que essas inovações facilitariam sua vida. Ele teria mais tempo para fazer seu trabalho e aumentar sua produtividade.
Até que, num certo ponto, ele entrava na internet, executava sua rotina de verificações diárias, com o intuito de poupar-lhe tempo, e, se houvesse um intervalo, poderia trabalhar: foi à ruína.
Ouviu em alguma conversa de canto, num boteco, numa madrugada, numa perifiria qualquer, que esses aplicativos rendem uma boa grana para quem os "inventa".