-Gostaria de chamar ao palco essa
grande figura, que já ocupou a Secretaria Estadual de Educação, fazendo um
ótimo serviço, reduzindo o analfabetismo, a evasão escolar, melhorando as
condições dos professores e acelerando o desenvolvimento da educação no Estado.
-Chega! Não dá mais, nossa
relação está desgastada, não aceito mais suas desculpas nem suas chantagens.
Você é um cretino.
-Você não pode fazer isso comigo,
não vou deixa-la ir assim. Você não pode me abandonar.
-Após sua brilhante gestão na
educação do Estado, ele aceitou nosso convite para o ministério da educação e
foi tão bem sucedido que recebeu inúmeros prêmios nacionais e internacionais.
-Você não pode sair assim. Pra
onde você vai?
-Não te interessa, vou embora
daqui. Chega!
Subiu ao palco, agradeceu a todos
com um sorriso. Aquele sorriso que sempre derrubava qualquer obstáculo. Ainda
ouviu no caminho diversos comentários sobre como conduzira com grande
inteligência questões pontuais e de gestão. Pegou o microfone e aguardou a
plateia silenciar.
-Pra que essa mala? Já falei, não
adianta querer levar suas coisas! Daqui você não sai. Quer sair, dar uma volta,
você até pode. Mas não vai levar suas coisas.
Começou parabenizando o evento,
relembrando algumas metas do governo para o próximo ano.
-Eu sempre te dei tudo, sempre
fiz de tudo por você. Não admito que você vá assim e me deixe aqui.
-Grande merda. Você é um bosta.
Sai da minha frente! Tira a mão de mim! Tira essa mão de mim!
Respondeu uma pergunta sobre a
unanimidade do seu nome para a sucessão presidencial. Negou, disse não haver
interesse. Relembrou o fim do prazo para candidatura se aproximando, a falta de
tempo hábil, mesmo que quisesse. Reafirmou sua vontade de apenas colaborar com
planejamento e gestão. Realmente não tinha grandes pretensões. Quem analisasse
sua trajetória perceberia que sua ascensão se dava muito mais por competência e
mérito que por ambição. Na verdade esta lhe faltava, diriam opositores.
-Se você encostar de novo em mim
eu faço um escândalo. Chamo a polícia! Coloco seu nome nas primeiras páginas.
Sai da minha frente que eu vou pegar minhas coisas nesta gaveta.
Recebeu o prêmio ofertado: a
placa ele guardaria de recordação enquanto a importância em dinheiro já estava
secreta e automaticamente destinada a um hospital infantil. Mas, até então, ele
nunca teve filhos. No caminho para casa – sempre de ônibus, pois não achava
correto gastar dinheiro com carro oficial nem motorista – parou para comprar o
jantar, ligou para a esposa, consultou sua preferência, de quebra comprou-lhe
flores.
-Você não chama a polícia nem sai
dessa casa. Agora cala essa boca e me escuta!
-Não há nada que você diga que me
convença do contrário, eu vou embora! Nosso casamento já estava na corda-bamba.
Você não me dá atenção há anos e eu achava que o problema era comigo - um tapa
calou e a jogou de costas na cama.
Saindo para a premiação, na porta de casa, a surpresa: um
caso de uma noite, estava ali, com uma criança de poucos anos, esperando para
exigir seus direitos. O segredo veio lhe puxar o pé.