Google+ O Riso e o Siso: janeiro 2013

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Santa Maria

Não consigo fazer um texto de humor nesta terça. Em partes pela saúde abalada por uma garganta inflamada, mas também pela tragédia do fim-de-semana.
O Jornal Nacional terminou sem sua vinheta, mostrando em silêncio uma lista com os nomes dos 232 mortos na boate. Na maioria estudante universitário. Uma lista de nomes como a lista dos aprovados no vestibular. Silenciosa, crua e pungente apresentava nomes e sobrenomes, tornando ainda mais chocante a desgraça. Lembrando-nos que além de seres humanos, o sobrenome revelava famílias, histórias, aspirações e responsabilidades. Os nomes nos diferenciavam e nos igualavam - somos todos perecíveis. Nomes e sobrenomes revelavam que a tragédia não acabou às 5.30 da manhã, quando as chamas cessaram, mas que ela continua: O horror é para quem fica...


*****

Na Argentina, o prefeito perdeu o cargo. Na França também. No Brasil nos limitamos a piadas de mau gosto nas redes sociais, a explosões de comentários preconceituosos, intolerância religiosa e mesmo a lamentações segregacionistas.
Nosso povo alegre e cordial despeja todo o veneno em uma catástrofe, tira o foco de cima dos verdadeiros responsáveis, demonstra a inaptidão para a vida em sociedade. Todos sociopatas? Não todos, não dá para generalizar, mas enormes quantidade de manifestações intolerantes surpreende a todo momento na internet.
Por que políticos são responsáveis? Por que o poder público é responsável?
Uma casa noturna funciona com - ou sem - alvará por responsabilidade do poder público. Se o alvará foi concedido, a responsabilidade é direta. Se a casa funcionava sem alvará, também! Pois a fiscalização foi ineficiente. Concomitantemente, o fiscal que concede licença de funcionamento em troca de propina faz parte de um sistema de corrupção, e, por mais que o prefeito seja alheio a este sistema, é sua responsabilidade combatê-lo.
Ninguém se torna prefeito sem saber que há possibilidades de corrupção na prefeitura. Ninguém é eleito prefeito sendo tão ingênuo. E se, por um acaso, acontecer de ser realmente ingênuo, ele está ocupando um cargo além de sua competência: deve ser retirado!
O fato é que o poder econômico sempre se sobrepõe às regras, às leis, às filas. O modelo de sociedade que adotamos é o da conivência com a corrupção; sempre que interesses econômicos surgirem, todo o resto perecerá. O meio-ambiente perecerá, as regras perecerão, vidas perecerão, pois tudo deve dar passagem ao lucro.
E o público segue buscando espetáculos de desgraça, atirando tomates em quem não está no palco, mas na própria platéia.

Pra finalizar, achei interessante o texto do Carpinejar:

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Tião, o lacônico

O almofadinha se preparando
Repórter de galochas
A equipe de reportagem do Canal de Televisão local se desloca para entrevistar um grupo de moradores chacareiros que reivindicam melhorias para o bairro. O grupo, consituído, em sua maioria, por idosos com baixa escolaridade fazia barricadas na estrada de terra, havia alguns dias, e ameaçava tocar fogo no milharal.
A estrada era praticamente deserta. Uma vez, a dona Rosalinda, 72 anos, passou mal caminhando alguns quilômetros para o próximo ponto de ônibus e foi encontrada só no dia seguinte, sentada num toco, cigarro de palha na mão, conversando com um gambá: o sol cozinhou o cucuruto. O milharal, por sua vez, se limitava a algumas dezenas plantas, destinadas apenas ao consumo local. Mas era o melhor blefe que aqueles velhinhos revolucionários podiam lançar. Ninguém estava disposto a destruir sua horta, nem abater seus animais, que eram muito mais rentáveis na feira.
Acontece que, após dias de levantes e mobilizações senis, no meio do nada. Uma equipe de reportagem da toda-poderosa, interessou-se pelo caso, muito mais a título de curiosidade do que como forma de afetar o prefeito, desafeto da imprensa local.
Ao chegar na região insurreta, com jipe 4x4, estilo Nações Unidas, o repórter desce de galocha na lama dando instruções ao câmera para pegar apenas da cintura para cima, enquanto acerta o gel no cabelo e o pó no rosto.
O grupo rebelde da melhor idade, ao ver aquilo, se agitou: seu Olavo sentiu palpitações, dona Emengarda subiu a pressão e seu Quinzinho atacou a diabetes então achou melhor sair do sol e descansar um pouco na beira da lagoa. Sobrou a palavra para o Tião, reconhecido internacionalmente por sua incapacidade de estabelecer um diálogo prolixo. A economia de palavras era mais que um dom, naquele matuto, era praticamente um transtorno obsessivo-compulsivo.
-Estamos aqui, diretamente do Bairro dos Chacareiros, ao vivo, para cobrir o movimento de reivindicação dos moradores. Como podemos ver, as chuvas das últimas semanas causaram destruição e transtorno para a população local, que resolveu protestar, fazer piquetes e barricadas nesta via rural, além de ameaçarem destruir a produção de alimento. Boa tarde, como é seu nome?
-Tião.
-Muito bem Tião, o que o senhor pode dizer sobre esse movimento de protesto e reivindicação, praticamente composto por idosos, que sofrem com o descaso e o abandono aqui no Bairro dos Chacareiros?
-É um protesto!
-Vocês se sentem abandonados pelo poder público, que favorece regiões com maior densidade demográfica para fins eleitoreiros?
-Não.
-Não? Vocês não lamentam o descaso que a prefeitura tem com vocês por serem idosos, afastados da cidade, e com pouca repercussão eleitoral?
-Não.
-Qual é a reivindicação de vocês então?
-Nóis qué qui mióra essas rua de chão, que põe ônibus mais perto e conserta os estrago da chuva.
-Certo, o acesso ao transporte público, então, faz parte do escopo desse imbróglio?
-Não, não, isso não.
-Bom, mas o senhor não acabou de dizer que reivindicam uma linha de ônibus que passe mais próxima da região?
-Sim, aí sim.
-Tudo bem. Você diria que por causa da idade avançada da maioria dos moradores do bairro, vocês necessitam melhores condições de acesso ao sistema de saúde?
-Não.
-Não? Vocês não têm problemas de saúde?
-Sim, isso sim.
-Ah tá, que tipos de problemas de saúde são mais decorrentes aqui, pela falta de infra-estrutura?
-Não, isso não.
-Quais tipos de doenças vocês costumam ter?
-Bichera, lumbriga, dor nos palto, bico-de-papagaio, pressão alta, diabete, friera, diarréia...
-Certo, e o que acontece quando precisam de atendimento urgente?
-Morre.
-E esses buracos causados pela chuva? Esse aqui tem mais de cinco metros de profundidade...
-Também morre.
-Como é?
-Se cair dentro...
-Certo, mas vocês não têm medo que ele aumente, engula a plantação, os bichos, a casa do senhor?
-Hahaha, mas isso aí não tem perigo, não.
-Não?
-Não, essa porcaria de bairro é tão ruim que ninguém engole, não. Nem buraco!

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Muito além da Globo


Autor Convidado
Necésio Pereira
Continuando com as quintas de convidados, mais um texto de Necésio Pereira


Transcrevo abaixo parte da coluna semanal que escrevo para o Guia de TV do planeta Urano:

Canal 3896
Programa: Desperta Urano!
Nessa semana o casal de apresentadores do programa "Desperta Urano!" se superaram, o velho Lonstra e a linda Fantiza abordaram um tema delicado, o cancro na região genital. Além do assunto ser indigesto para o café da manhã a produção do programa ainda apresentou diante da já tradicional platéia de sexagenárias com pompons coloridos e faixas de propaganda presas nos cabelos que compõe o cenário do programa, um desfile de varias espécies masculinas mostrando no palco seus órgãos reprodutores desfigurados pela doença: NOTA 0!

Canal 57849
Programa: UTV pra Você
O UTV pra você com a apresentação de Zulion Xuwi deu um show de cultura e orientação cívica e moral em seu programa que foi ao ar nessa terça feira Zulion ensinou com sua inconfundível voz rouca e seus já consagrados pigarro, filhotes de orientais a cantar o hino nacional das terras do norte. Os filhotes se portaram como verdadeiros cidadãos e no final do programa ganharam doces e uma revistinha do partido. Zulion como sempre fez um programa impecável. Parabéns! NOTA 10!

  
Canal 78308
Programa: Viajando pelas luas

O programa “Viajando pelas luas” com apresentação da hiperativa Giuzaika conseguiu finalmente apresentar um programa popular, saindo daqueles enfadonhos spas e grutas de hiperventilação o programa apresentou opções baratas e divertidas de viajar pelas luas do planeta. Saindo dos já batidos pontos turísticos, visitaram a periferia e  acompanharam uma caravana de terráqueos abduzidos pela primeira vez.
A delicadeza da equipe diante do ar assustado e abobado dos terráqueos foi comovente o ponto alto do programa foi quando Giuzaika mostrou de forma póetica a reação deles ao se deitar na grama de Urano e rir com os pequenos tentáculos da grama com suas contrações que são uma espécie de beijinhos. O rosto dos ufólogos terrestres e sacerdotes ufolótras da caravana em êxtase com as  cocegas fez desse o melhor programa da temporada. NOTA:10


Canal 108497
Programa: Plinha no garátu

Ainda se ouve os saudosistas a lembrar dos antigos programas infantis, queixando-se dos novos programas, como se os de hoje fossem de alguma maneira inferior. Sim, de fato  os programas infantis tem tido uma preocupação exagerada com a formação civil da infância, sendo acusados muitas vezes de ter se transformado em um braço do governo dentro da programação matinal, mas quem assistiu o programa do Plinha no garatu dessa semana percebeu que ainda temos programas tão bons quanto o inesquecível Latão de estrelas que fez a alegria de tantos .
O Plinha no garatú conseguiu nessa semana, na segunda feira, em um único bloco ensinar a garotada técnicas de telepatia, dicas de trabalhos manuais e uma explicação claríssima das funções e formas dos órgãos reprodutores dos imigrantes de Plutão. Tudo com muita dança, musica e sorrisos. Não dá para dar menos que nota máxima. NOTA: 10

Canal 39740
Programa: Novela – Asas para meu bebê

Quando a produção da novela “Asas para meu bebê” apresentou para a imprensa sua sinopse, todos apostaram no sucesso da trama, afinal a historia de uma mulher gravida que resolve viajar para um novo planeta para criar seu filho longe da terrível tradição de amputar as asas dos recém nascidos tinha tudo para comover o público. Com um elenco de estrelas e beldades a novela era uma promessa de uma nova maneira de levar para as telas o drama vivido por tantas mulheres á décadas atrás, mas passado dez dias da novela no ar- decepção!
O texto é vago no que se refere ao pai da criança, o que incomoda e muito os moralista, a interpretação dos atores vacilante  e a cena do nascimento da criança seguindo a tradição dos Milkas, foi no mínimo nojenta! Ou os autores da novela tentam realizar o que a sinopse prometia ou matem todos os personagens e reprisem as novelas românticas venusianas que tanto sucesso fizeram por aqui. NOTA 0

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Tragédias da vida real

É trágico, mas, às vezes, a gente ri. É que algumas coisas não são possíveis. A vida anda meio surreal. Há uma frase de que a arte imita a vida, já to achando que a "glitch art" se enquadra na questão.

1-)Manchete no IG:

SP aumenta em 55% entrega gratuita da "droga da obediência"

Estão enfiando Ritalina na molecada travessa. Se o guri não obedece, não cala a boca e não para quieto, soca Ritalina. "Menina, não consegui assistir o último capítulo da novela porque o Pedrinho não calava a boca... Acho que ele é hiperativo. Vou dar remédio".
Os pais estão crescendo bunda-moles, não colocam limites nos filhos, não conversam, não educam e depois correm atrás da Ritalina. É mais fácil... não se indispõe, não enfrenta problemas, não há conflitos porque depois tem Ritalina pra dopar o menino... Aí manda o moleque pra escola, ele inferniza a aula, bate nos colegas, não consegue fazer amigos, tira nota baixa, mas a culpa é da "hiperatividade" da criança. Vamos diagnosticá-los como déficit de atenção. Soca remédio e faz o moleque babar na carteira. Cura o déficit de atenção com sonolência! Olha que bonitinho o menino aprendendo por osmose. Será que vão disponibilizar a droga para os professores também?

2-)O pastor pede pra botar o dízimo em débito automático. Ninguém na igreja acha estranho... Só o Chuck Norris.

3-)A China vai fabricar e mandar um foguete tripulado para o espaço este ano. Os astronautas estão indo obrigados? É castigo? Ou são malucos? Tem que ser muito macho ou muito louco pra confiar num foguete feito na China! Eles não conseguem nem fazer um mp3 player! Comprei um, uma vez... Depois descobri o significado da sigla: mp3, porque só funciona três vezes!
E o GPS, que não funciona com o carro em movimento? Ou você anda com papel e caneta pra desenhar a rota que ele mostra ou tem que parar a cada 100 metros pra ouvir instrução... Se tiver GPS no foguete eles vão subir 100 metros e parar pra recalcular a rota?

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Biquíni Fatal


O diálogo é fictício, mas a história é baseada em fatos reais, aconteceu com uma amiga e leitora do blog:

-Querida, o que era aquele pacote que entregaram ontem?
-Então, sabe o que é? Quer um suquinho? Eu preparo pra você!
-Não, tudo bem, por que você está desconversando? Quanto custou esse biquíni?
-Então, eu comprei pela internet, não foi caro. É que... quer que eu prepare um sanduíche pra você?
-Não tenta me enrolar. O que aconteceu? Quanto custou esse biquíni?
-É que eu estava querendo ficar bonita pra você... oitenta...
-Putaquepariu, oitenta reais?
-Dólares...
-Cacete! Oitenta dólares? Você pirou? Com esse dinheiro dá pra comprar uma córnea no mercado negro! Aliás, com oitenta dólares você compra uma criança lá no Centro-Oeste! Que absurdo! O que tem nesse biquíni? É banhado a ouro?
-Não, é uma tecnologia nova que deixa o bumbum empinadinho...
-Bumbum empinado por oitenta dólares? Você vai ter que andar de quatro, de tão empinado... Não acredito que você pagou isso num biquíni!
-Então, sabe o que é? Viu, você não quer que eu pique uma maçãzinha pra você comer?
-Não enrola, fala logo, o que tem mais pra eu saber?
-Cliquei, sem querer, duas vezes no botão comprar...
-Como é? Você comprou o mesmo biquíni duas vezes?
-É... desculpa... mancada... foi sem querer mesmo...
-Pu-ta-que-pa-riu! Quer dizer que você gastou cento e sessenta dólares em biquíni? Dava pra comprar também uma irmãzinha pra criança lá do Centro-Oeste?
-Ai, não fica assim...
-Aliás, por que o preço tá em dólares?
-É que eu comprei num site dos Estados Unidos...
-Meu Deus, o absurdo não para por aí! Esse preço é com o frete incluso, pelo menos, né?
-Não, amor... nisso eu dei outra mancada... eu não entendia direito o que tava escrito e não vi que o frete era separado, cliquei sem querer na entrega especial, que vem mais rápido, e cobraram um extra...
-Extra de quanto?
-Ficou duzentos e cinquenta e seis reais a entrega...
-Cacete, ai meu rim! Não acredito nisso! Duzentos e sessenta de entrega... Não acredito! Quer dizer que poderíamos ter comprado, também, os pais das duas crianças? Ai, to sentindo dor...
-Duzentos e cinquenta e seis, amor, e pra quê eu iria querer comprar uma família no Centro-Oeste? Você tem cada ideia...
-Eu é que tenho cada ideia? Eu? Eu? Seiscentos e cassetada num biquíni é genial!
-Dois biquínis...
-Porra! Dois! Ótimo! Dois iguaizinhos... Não tinha, pelo menos, como pedir de cor diferente? Trocar, sei lá?
-Não, a loja lá nos EUA não aceita devolução, nem troca. Eu mandei e-mail, tentei conversar, mas eles têm outra lei lá...
-Certo, vamos tentar vender um pelo menos, então, pra diminuir o prejuízo...
-Sabe o que é? Não dá... quer dizer, não por enquanto...
-Como assim?
-Só veio um... o outro ainda não chegou...
-Meu Deus, quando a gente pensa que não dá pra piorar! Quer dizer, então, que toda essa gastança, essa fortuna, foi pra perder um biquíni pelo caminho? Tamo rasgando dinheiro, agora? Você me vem com cada uma! Quase setecentos contos em biquínis... Tem que empinar o bumbum e o peito, por esse preço. E ainda servir café...
-Ai amor, você fica piorando a situação...
-Eu fico piorando? Como assim?
-Ele não empina o peito...
-Não, ele estufa, aumenta, faz ficar maior, né?
-Não, depois que comprei que vi... só vem a parte de baixo...
-Aaaaahhhhhhh!!!
-Ah chega de drama e levanta desse chão, que quem paga as contas nessa casa sou eu...