Google+ O Riso e o Siso: fevereiro 2014

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Vida de Condomínio: Acessibilidade

Uma das maiores preocupações da construtora e, agora, da administradora, é com a acessibilidade. Há rampas em várias partes do condomínio. Cada torre tem, pelo menos, dois apartamentos destinados a portadores de necessidades especiais de modo que, embora não estejam com ocupação total, podemos contar, no mínimo, seis moradores nessas condições. É lindo! Apesar de serem apenas seis dentre duzentas famílias, podemos ter orgulho de bater no peito e jogar na cara dos condomínios vizinhos: “Nós somos politicamente corretos!”.
Tá certo que no dia do sorteio das vagas foi um pegapracapar que até questionaram a localização dessas vagas. Defenderam que elas deveriam entrar no sorteio e que rezassem para cair próximo ao edifício. Felizmente, o bom senso venceu e as vagas foram estrategicamente colocadas próximas às portas de entrada.
Além disso, investimos também em atividades físicas para esses moradores especiais. Quer dizer, o custo é zero, não chega a ser um investimento, mas um incentivo. Quer dizer, não é bem um incentivo, é um imperativo, uma obrigação. Funciona mais ou menos assim: o cara compra o apartamento no térreo porque é da cota de acessibilidade; a vaga é pintada com aquele símbolo azul e branco, bem próxima à porta; a construtora põe uma rampa praticamente saindo da porta do prédio, mas a outra ponta da rampa fica há uns duzentos metros da vaga. Você precisa atravessar todo o estacionamento para acessar a rampa com sua cadeira – a menos que ela venha equipada com o modo Off-road 4x4, para atravessar o gramado, os pedregulhos e escalar o morro que separam o estacionamento do edifício.
É interessante o conceito. A construtora deu todo o suporte e infraestrutura para que os condôminos pratiquem exercícios. Imagina: o cara sai com a cadeira de rodas, vai até lá na frente e volta, percorrendo uns quatrocentos metros por dia, só para entrar no carro que está há menos de três metros da sua porta. Só me intriga pensar no caso dele esquecer as chaves do carro. Outra coisa é a falta de espaço nas laterais. Acho que eles se arrastam para sair pelo porta-malas.
Juro que um dia vi um deles bater recordes de velocidade para fugir da chuva, já que a rampa fica a céu aberto. Só acho injusto ele poder passar dos vinte quilômetros por hora e a gente não.

Aliás, é impressionante a perseverança do seu Olavo, morador do sétimo andar que teve um derrame. Ele agora precisa de um andador para se locomover. Todos os dias ele sobe e desce a rampa para se exercitar. Deduzo que sejam orientações médicas, já que ele não consegue mais falar. Ato realmente heroico se pensarmos que ele leva uns cinco minutos para percorrer um metro, vezes quatrocentos (ida e volta da rampa), dá quase trinta e quatro horas de caminhada! Nunca consegui acompanhar a volta completa. Já me sentei na sacada por algumas vezes, mas caio no sono em poucos minutos. Qualquer dia passo de carro e ofereço carona para agilizar.