Google+ O Riso e o Siso: Churrasco de domingo - ou uma pequena parábola sobre as divergências

terça-feira, 30 de abril de 2013

Churrasco de domingo - ou uma pequena parábola sobre as divergências

A discussão pega fogo
Domingo de sol, o frio deu uma trégua e o pessoal combinou um churrasco pra celebrar. Cada um levou um pouco de carne e bebida pra somar. Um típico churrasco da galera.
As carnes foram guardadas, assim como as bebidas e, por algum motivo inexplicável, resolveram esperar a carne para começarem a beber.
Mas, na hora do preparo, cadê o sal?
-Tem sal grosso e sal fino.
Foi o suficiente para uma profunda cisão entre os convivas. Cada lado argumentava e rebatia os argumentos contrários. E isso era feito com tanta paixão que em pouco tempo já planejavam manifestos e trabalhos acadêmicos defendendo suas posições! Enquanto o debate pegava fogo, a churrasqueira gelava...

Os mais puristas diziam que o sal grosso era mais saudável e tradicional. Os mais moderninhos preferiam o refinado, iodado, coisa de gente civilizada. Uns queriam seguir a receita do avô, outros achavam que aquilo era um pensamento infantilizado e retrógrado.
O debate se estendeu pela tarde. Agressões verbais surgiram de ambos os lados:
-Você é uma anta, não sabe o que diz!
-Eu sou uma anta? Você que é um hipócrita tentando aliciar as pessoas para te beneficiar!
-Hipócrita é você!
-Você é um hipócrita.
-Você que é um hipócrita.
-Você é um hipócrita.
-Você que é um hipócrita.
-Você é um hipócrita e um safado.
-Você que é um hipócrita! depois de alguns segundos ele percebeu: Safado? Safado? Safado é você seu mentiroso!

Aqueles que antes assistiam e tomavam partido já passaram a espectadores. Os mais apaixonados ficavam no centro do debate, tentavam agitar os demais e arregimentar adeptos. Mas havia a fome. O debate girava em torno do modo mais conveniente de se temperar um churrasco, ou talvez do modo mais tradicional, ou o mais prático, o mais saboroso, sei lá. Ninguém entendia muito bem as posições defendidas, ora o grupo do primeiro argumento defendia o segundo e o pessoal do segundo contrariava defendendo um terceiro e aquilo já parecia uma ciranda. Um grupo cada vez menor debatia e o resto assistia.

Algumas barrigas berravam. O resto das barrigas roncava.
A fome incomodava na proporção inversa à paciência. Os debatedores, agora reduzidos a um pequeno grupo, auto-intitulado vanguarda do sal, usavam argumentos sobre a vontade dos demais, a necessidade dos demais, a real necessidade dos demais, a vontade consciente, vontade inconsciente, ficavam cada vez mais ininteligíveis. Os demais só queriam um pouco de carne e cerveja para terminar o domingo de barriga cheia. A carne e a cerveja que cada um trouxe.

Foi quando um dos participantes resolveu o problema do tempero usando açúcar. Uma receita tailandesa de molho agridoce passou a ser vendida para que cada um pudesse comer a carne que trouxe. Fez dinheiro! Não era a melhor opção, nem a melhor combinação para a cerveja, e estava longe da preferência geral, mas, àquela altura, quem se importava com isso? Aliás, quem sabia o que aquele pessoal preferia?

links relacionados:
Da Vinci na Babel do Tempero

2 comentários:

  1. Muito legal!!!! Inteligente... é com dizia o Brecht: não há moral de barriga vazia... É o que eu sinto nas redes sociais, com tanta gente inteligenciando (acabei de inventar o termo) coisas que a miséria não tem tempo pra desperdiçar parando pra pensar... Muito legal!

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  2. e de futebol ninguém falou..../

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