Google+ O Riso e o Siso: 2013

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Todos exigimos respeito

O policial, enfezado com a multidão protestando, ordena que retornem para suas casas e arrumem outra forma de protestar. Ninguém atende, ninguém da atenção à sua autoridade. Ele desce o sarrafo na galera. Ele só está fazendo seu trabalho. Ele exige respeito. O ladrão, depois de preso, espera bom tratamento das autoridades, quer ser tratado como gente, exige seus direitos respeitados, exige respeito. Ele só estava fazendo seu trabalho. Ambos oram para Deus no início do dia e sempre emendam um “se Deus quiser” no fim das frases. O mesmo Deus que ajuda o bandido ajuda o policial.
Assim como o professor que obriga a sala a orar, apesar da educação laica, e pede ajuda de Deus para um bom dia de trabalho, faz piadas machistas, homofóbicas, racistas, não perde a chance de ressaltar a pobreza do aluno, abusa de sua autoridade chantageando notas, pede atenção para a sala, xinga, grita e exige respeito. Também o aluno picha, destrói, rabisca quebra a sala de aula, atrapalha a explicação, desdenha da escola e do trabalho do professor exige seus direitos, protesta para ser respeitado.
A caminho de casa presenciei um motoqueiro acelerar na curva, derrubar um ciclista, alcançar o carrão de luxo mais à frente e iniciar uma discussão por causa de uma manobra imprudente cem metros atrás. O carro tinha um símbolo cristão na traseira. O motoqueiro foi tirar satisfação. Sua vida foi posta em risco. Ele estava exigindo respeito.
A feminista engajada sai do mercado - linda e loira - e entra em seu carro estacionado na vaga de deficientes. Ela sempre fala da bíblia. Ela é saudável. Ela luta por respeito.

Todos exigem respeito.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Diferenças entre meninos e meninas

Litros de tintas são desperdiçados, de tempos em tempos, tentando explicar a diferença entre meninos e meninas. Há os que apostam nas discordâncias, como o célebre "Homens são de Marte, Mulheres são de Vênus". Há os que apostam na atração, como o "Por que os homens amam as mulheres poderosas" e há obras científicas, isentas e equilibradas como a Bíblia Sagrada.
Como esse parece ser assunto que rende best sellers, nosso humilde blog não poderia deixar de beliscar esse filão.
Claro que o assunto não é fácil, a conclusão não é simples e demanda anos e anos de estudos, testes, análises e músicas do Chico Buarque, mas não é uma tarefa impossível. A prova disso é que hoje mesmo, passando pelo jardim do condomínio, pude observar duas crianças de sexos opostos, com comportamentos bem estereotipados e psicografei uma brilhante conclusão.
Tenham essas palavras sempre em mente, caros leitores, quando estiverem lidando com indivíduos do sexo oposto, num momento de conflito, discordância ou exaltação pela atenção gasta com o Playstation, o jogo de futebol, o carteado, o filme do Bruce Lee - pela décima oitava vez na Tela Quente, exibindo selo de inédito na propaganda - em oposição ao Shopping, à louça na pia, à novela, ao Shopping de novo e ao penteado-super-inovador-que-se-parece-com-o-anterior-mas-que-tem-um-dedo-a-menos.
A fonte de toda indignação, todo beicinho, toda manha, discussão, homicídios e suicídios entre sexos opostos reside no simples fato de que cada gênero compartilha com seus semelhantes, uma visão muito peculiar do que significa ser uma pessoa adulta, independente, madura e dona de si.
Enquanto os meninos imaginam que atingirão esse estágio após terem trabalhado, juntado dinheiro, comprado um foguete, ultrapassado a velocidade do som, viajado para Marte, fincado uma bandeira em solo alienígena e baixado as calças para urinar e perpetuar sua cadeia genética fora da Terra. A meninas pensam que atingirão tal estágio quando conseguirem dar os três passinhos e alcançar o outro sofá.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Vida de condomínio: Sabedoria popular

Há cerca de dois meses um e-mail me assombrou com um item na coluna de gastos, indicando mil e seiscentos reais com quatro tapetes. Era a prestação de contas do condomínio. Os quatro tapetes seriam postos um na entrada de cada torre. Depois do assombro, veio a curiosidade. Vejam bem: mil e seiscentos reais não é para qualquer tapete. Eu desejava muito apreciar a obra exposta no hall do edifício.
A obra de arte, que deveria logo estar "disponível", como dizia o e-mail, não apareceu. Continuei minha rotina, cansada, suada, desgastada, de limpar os pés num capacho qualquer. Um capachinho simples de vinil, prático e eficiente na porta de entrada, daqueles que parecem pelos pubianos de borracha.
Capacho de vinil
Não havia registros nos anais do condomínio de reclamação contra o capacho de pelos pubianos. Pelo contrário, ele desempenhava muito bem suas funções, de forma tão discreta que muitas pessoas passavam por ele sem nem perceber. Isso era facilmente notado nas marcas deixadas no piso. Mas a questão era que, pelo valor gasto, o novo tapete deveria ser espetacular. Quem sabe não seria algo que cobrisse todo o hall de entrada. Ou melhor, um tapete tão especial que lustra seus sapatos enquanto você caminha por ele. Ou, talvez, um tapete que limpe a casa, o carro, sirva almoço, lave e passe. Eu mal podia esperar para vê-lo. Cheguei a passar noites em claro imaginando as maravilhas desenhadas na superfície. Sonhava que ele me levava para passear e visitar as maravilhas do mundo. Voando pelo planeta eu era o próprio Aladin. Fiquei até preocupado com a possibilidade de termos tamanha magnificência furtada numa noite dessas.
Dois meses se passaram e, de entrada no meu prédio, cruzo com o síndico, sorridente, estufado, pomposo saindo do elevador:
-Bom dia. E aí seu síndico, quando vamos ter o famoso tapete a ornamentar nosso humilde condomínio?
-Mas ele já está ali, meu rapaz. Você não viu?
Congelei embasbacado. Era pegadinha? Como podia, eu passei pelo tapete e não o vi? Busquei rapidamente refazer meu caminho com os olhos, não o encontrei, busquei as paredes (tem gente esquisita que gosta de pendurar tapetes em parede), também nada, comecei a me desesperar, haveriam-no roubado, antes mesmo que eu tivesse desfrutado de sua beleza? Não era possível. Cogitei, pela sua beleza e funcionalidade sem igual, ser algo destinado aos deuses e, por isso, invisível aos olhos humanos. Não sei, não sabia, não saberei, a crise existencial me tomou violentamente, eu já tentava lembrar o telefone do meu analista quando ouvi:
-Aquele ali, ali mesmo...
Venci a vertigem e recobrei os sentidos.
-Você limpou os pés nele quando entrou.
-Você tá falando do tapete de pentelhos?
-Como é?
-Você tá falando do capacho, velho, gasto, que está aí há tempos?
-Como assim? O tapete é bom! Só percebemos o valor da água depois que a fonte seca.
-Pela fortuna que você gastou, bom não basta!
-Hã? Lembre-se meu jovem: beleza não põe a mesa.
-Mas...
-A palavra é prata, o silêncio é ouro.
Entrei no elevador. Ele demorou a fechar a porta. Saí e subi dez andares de escada, de tão consternado que fiquei. Não consegui me lembrar de nenhum provérbio que o mandasse para puta que pariu. Há momentos em que a sabedoria popular é polida demais.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Experiências Highlander no SUS

Duas semanas doente, uma semana no hospital. Não consigo mais escrever. Acho que perdi a graça. "Eu vi coisas, eu fiz coisas. Eu experimentei sangue humano e o gosto é bom!".
A inocência foi perdida.

Você liga para o SAMU, chama a ambulância e quarenta minutos depois ela ainda não veio. O SAMU é para emergências! Você liga e reclama "pô, liguei chamando a ambulância há quarenta minutos e ainda nada", "o paciente ainda está respirando?", "sim", "então não era emergência, bota ele num taxi e manda pro hospital".
Já não faz sentido. É ácido lisérgico o SUS.

A atendente te pergunta: "o que você tem, senhor?", "bom, lindinha, se eu soubesse não tava aqui, tava num consultório", "Mas o que você está sentindo?", "nesse momento, ódio".
Nem hospital particular está salvando mais. Pelamordedeus, manda um cubano lá pra casa!

Após um dia inteiro de febre, sentado numa cadeira desconfortável, o braço cheio de furos e sem almoço, acho que posso integrar as forças de paz da ONU. Sou o próprio Highlander. Sair vivo dessa nem o Rambo. Só o Chuck Norris, que não é humano. Highlander tinha uma espada, né? Tô tão debilitado que só posso carregar um estilete. Ou um alicatinho de cutícula. "Vou combater o mal com meu alicatinho de cutícula". Isso é coisa de herói socialite. Formar uma liga da justiça com a Narcisa e a Val Marchiori. A Narcisa joga ovo enquanto a Val xinga o vilão de pobre cafona.

Só fui encaminhado para um leito depois da novela das 8. Acho que estavam esperando acabar para dar entrada nos meus papéis. Do médico não havia nem sinal, e eu já havia sido diagnosticado e receitado por cinco pacientes e três acompanhantes.

Quando, finalmente, me deitaram numa maca, ao lado de outras duzentas e trinta e sete macas, cada uma com um enfermo gemendo, ao meu lado um jovem de uns noventa e sete anos se esticava, virava, gemia, resmungava. A noite seria longa. Percebi uma luz forte se aproximando, abrindo passagem pelo teto. Ela vinha serena, aquecia e enchia a gente de paz. Uma voz grave, firme e bondosa soou: "Américo? Américo Neto? É você?" Era, mas ele não se identificou. Hoje em dia não dá para confiar em qualquer voz que se ouve por aí. Tá assim de caso de gente que é enganada porque ganhou no Baú, porque ganhou um carro, porque um parente foi sequestrado. Prontamente apontei para o senhorzinho deitado na maca ao lado. "Chegou sua hora, vamos". Tive a impressão de vê-lo flutuar em direção à luz, mas acho que não, ele pegou num sono tão gostoso, tranquilo, nem se mexia.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Déficit de Atenção

Sala dos professores, as senhorinhas se reúnem na hora do intervalo para trocar figurinhas e diagnosticar alunos:
Ai já descobrem que o Luizinho tem problema de atenção. Só pode. Aquele moleque não para quieto. Ai você fez aquele peixe que você falou? É déficit de atenção! Tô fazendo um curso sobre isso... Sobre o que vocês estão falando? Ah, é do Luizinho, aquele moleque endiabrado. Mas, também, ele mal sabe ler. É filé de tilápia. Pois é, é por causa do TDAH. O que é isso? É déficit de atenção, eu vi no curso que to fazendo. Ai, e aquela receita que você ia trazer? O Luizinho não pára, não dá sossego. Ah, eu mando logo ele copiar três páginas que ele fica sentado e não atrapalha, pelo menos. Mas e a receita, vai muito sal? O déficit de atenção é duro, prejudica muito o desenvolvimento. É do Luizinho, né? Isso! Ele tem déficit de atenção, ela viu no curso. É eu to fazendo um curso. Sobre déficit de atenção? E a receita? escreve ela num papel pra mim? Oi diretora, tudo bem? Gente ela precisa dar um recado. Mas o Luizinho não deixa a gente dar recado na sala. Xii, se tentar parar o pessoal pra dar recado é aí que pega fogo. Fogo? A receita fica quanto tempo? Quem fez o curso de atenção? Ai menina, já falei que não vai no fogo, é marinado, cozinha no limão. Mas o Luizinho nem isso conseguem entender, se disser marinado é capaz de dar um peteleco na Marina. A diretora quer falar! E tava fazendo o peixe mas parei na hora da novela. Gente e a Pilar que pegou o Cesar com a Aline? Ah, jura? Ontem não assisti novela, fiquei preparando material pro Luizinho. A diretora tá esperando! Sim, a gente estava falando que aquele moleque deve ter TDAH. Já tem laudo? Que laudo? Tem alguém doente? O Luizinho. Mas isso é doença? A diretora quer falar! E o que a Pilar fez? Mandou o Luizinho embora. O Luizinho? Não, o César! Olha lá, ele deixa a gente louca. É, aquele Antonio Fagundes é uma loucura!

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Democraticamente

Democraticamente ele foi eleito deputado federal (assim mesmo, em minúsculas, que é a moral dele para assumir tal função). Democraticamente usou o microfone para espalhar preconceitos democráticos contra as minorias; afinal ele tem direitos, liberdade de expressão e tudo mais. Democraticamente ele não entrou para a comissão que foi convidada a visitar as instalações do antigo DOI-Codi, onde nada democraticamente se torturava pessoas democráticas. Aí então, ele, democraticamente, resolveu forçar entrada, reivindicando para si direitos de ir e vir e liberdades constitucionais; afinal, se a regra para entrar era ter sido convidado, ele podia, democraticamente, burlar a regra, como todas as pessoas o fazem diariamente. Ao ser, democraticamente, impelido a seguir as normas, ele deu um soco bem democrático na costela de um Senador (que é um soco distribuído em todos os trens e ônibus lotados, em todos os hospitais sucateados e em todas as contas superfaturadas), também eleito democraticamente. Depois ele foi à mídia democrática e explicou bem democraticamente que havia apenas empurrado "aquele lixo de parlamentar que defende aqueles lixos de minoria, de pobre e de trabalhadores". E, democraticamente, a notícia se espalhou. E, democraticamente, as pessoas formaram opiniões. E, democraticamente, alguns apoiaram o agressor democraticamente cretino; afinal, ser cretino é direito natural, subjacente, de qualquer indivíduo. E, democraticamente ele se promoveu e, democraticamente, receberá votos para continuar um representante democrático. Masperaí, ele não defende a ditadura?

terça-feira, 17 de setembro de 2013

éééé doooo Brasil sil sil...

A espionagem dos EUA no Brasil revela ao mundo uma característica horrível dos norte-americanos, espionar a Dilma é uma tara nojenta! Se tivessem espionando a Debora Secco vá lá, mas a Dilma? É inconcebível! Fontes seguras afirmam que isso destruiu a auto-estima da Michelle Obama que se sentiu comparada à presidenta. Ela declarou "que fosse, pelo menos, a Taís Araújo".
Por causa dos acontecimentos, a visita de Dilma aos EUA foi adiada em decisão conjunta, na verdade o Obama lembrou que ela tinha consulta no médico. Agora é assim: o Obama tem que ficar lembrando compromissos e contatos da agenda da presidenta. O cara tá virando secretário dela!
Vazou um documento no Wikileaks, que a monitoração do governo brasileiro foi ideia de um especialista em políticas públicas da Casa Branca. Eles estão tão ferrados que começaram a espionar o Brasil, para se sentirem melhor. É uma questão de auto-estima. Eles estavam se achando ferrados, com problemas de dívida pública, problemas na saúde, emprego, educação, segurança. A ideia foi brilhante "Olha o Brasil, Obama. A gente podia estar pior!".
Espionando o Brasil, rolou uma proposta da Casa Branca, que na verdade soa mais como uma ameaça: se a Síria não entregar as armas químicas, vamos montar um governo provisório brasileiro lá. O Brasil vai se dar bem nessa! Vamos exportar as tranqueiras e depois a gente faz o programa Mais Políticos. Vamos encostar os nossos e trazer os de fora. É bem mais barato e eficiente!
Você manja que aqui  somos peritos em administração e gerenciamento. O único problema é o calendário Ele nunca respeita o tempo dos políticos. O tempo passa muito rápido aí quando o problema vai ser resolvido, já se passaram vinte anos. Mas nossos dirigentes estão se esforçando. Logo eles melhoram e serão promovidos a juízes, aí as coisas demorarão trinta anos.
Eu te conheço... Noé, certo?
Um dos emblemas da nossa capacidade de aceitar ótimos dirigentes é a CBF. Ô curva de rio! Tudo que é tranqueira para por ali. Agora vem o Zé Maria. Descobri que o cara se aposentou na década de 50! Esse é o Mun-há. E o pessoal ainda falava da Hebe. Daí já descobri também de onde vem a mania do cara de "se apropriar de objetos alheios carentes de vigilância e atenção" (termo em acordo com a cartilha do PSDB). Quando ele era jogador, a única forma de ganhar uma medalha era na mão grande!
Gente, o curriculo do cara é de assombrar: foi vereador dos Integralistas, deputado pelo ARENA, advogado de Barrabás e imediato de Noé.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Carnaval fora de época

A lalaô ôôô ôôô
Village People

Com essa mania de ser literal, o povo brasileiro leu na fachada "casa do povo" e resolveu entrar na Câmara. Foram recebidos com confetes, serpentinas e espuma pelo "bloco dos astronautas". O carnaval fora de época é marca registrada nas festividades brasilienses, ocorre durante o ano todo na Esplanada.
Além desse bloco, há o do "bolso cheio" e "mascarados", há também o das "amadas amantes" e, inclusive o do "arco-íris em preto e branco", que sempre ora pela verba alheia.
Mas a entrada é limitada. O presidente da casa explicou que o tratamento dado aos visitantes é diferenciado pois o carnaval contempla eleitos e eleitores, cada um a seu tento. "Foliões visitantes serão proibidos de usar máscaras no baile. Essa é prerrogativa apenas dos representantes" avisou o líder da bancada.
Um grupo de artistas fantasiados, e sem máscaras, levou a galera ao êxtase com o cover do Village People, no hit YMCA. Até o pipoqueiro do salão se envolveu na dança.
No plenário, o bloco dos mascarados elogiou a interação do público com a casa de shows. Se disseram emocionados pelo reconhecimento do trabalho duro desenvolvido ao longo do mandato e agradeceram a confiança depositada em votos secretos.
"O povo brasileiro vem dando uma grande lição de inclusão e tolerância, mantendo um presidiário como 'funcionário' da nação", declarou um dos políticos.
Quanto à acusação de que a folia estava extrapolando e beirando à quebra de decoro, o presidente do clube respondeu: "decoro e regras são feitos para serem quebrados, desde que de forma ordenada e pacífica, com as porcentagens bem definidas. Só não pode vandalizar"
Foi uma bela festa, que durará o resto do ano e, quiçá, do mandato. Todos terminaram em clima de congraçamento. 


terça-feira, 27 de agosto de 2013

Vida de Condomínio: Briga e selvageria

Não entendo nada de seres humanos, mas a vida em condomínio é um grande ensinamento nesse quesito. E eu descobri que, quanto maior a briga de um casal, mais selvagem é a reconciliação. Descobri também, que é muito mais interessante a baixaria do que a putaria.
Toda noite, um pouco antes da novela, botamos ouvidos a postos para verificar qual entretenimento vamos acompanhar: dramalhões mexicanos altamente improváveis e manipulados ou o espetáculo real dos acontecimentos cotidianos?

Nossos vizinhos poderiam cobrar ingressos. Fariam uma grana. Eu pagaria!

O caboclo olha torto ou fala meia palavra pra mulher e os dois já descambam para as vias de fato. É um que vai pra casa da mãe, o outro que vai pra casa dos tios, aquele que vai pro sofá, o outro que vai pro inferno. Dali já são as louças e os talheres que resolvem suicidar-se, a mulher dá passos de cento e vinte quilos, faz aulas de sapateado e corre para os lados com a mala de rodinhas, diz que não suporta mais, que não vai mais admitir, que onde já se viu. Todo mês.

Acho que meu teto é valvulado. O som sai cristalino.

O duro é quando o cara chega tarde. Aí até eu quero partir pra ignorância. A gente fica esperando, se não tem espetáculo, engrena na novela e daí começa a baixaria? A gente perde o começo, perde o fio da meada! Não dá. E o risco da briga continuar noite a dentro e eu ter que largar no meio?

Vou fazer abaixo-assinado pra não deixar o cara entrar no condomínio depois que começou a novela. Se quiserem brigar, deixa pro dia seguinte que a gente não perde o capítulo.

Aí depois vem aquela parte constrangedora da reconciliação, o não faz mais isso, não faço, me promete, me jura, eu juro, o olha que eu te mato, olha que eu morro, olha que sua mãe não aguenta mais reclamação e eu que sem você não tenho por quê. E vem a troca de gentileza e a troca de genitálias.

Aí selvageria toma conta da situação tudo novamente são gritos gemidos pé de cama arranhando o piso. Ufa. Ainda bem que ele tem ejaculação precoce...

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Manifestações na Câmara dos Deputados

Dezenas de manifestantes invadiram, no final da tarde desta terça-feira (20), o plenário da Câmara dos Deputados, local onde as votações são realizadas e em que é permitida apenas a presença de deputados e assessores, lobbystas, empreiteiros, mega empresários, representantes da Siemens, maletas de propina, ex-deputados, ex-presidentes, quadrilheiros, traficantes, ladrões, sequestradores, cafetões e estupradores.
O presidente da Câmara, pediu "respeito" aos manifestantes, que apitavam, cantavam o Hino Nacional e gritavam palavras de ordem no plenário. "Aqui não é lugar para rompantes de civismo e cidadania", alertou o presidente.
Os manifestante gritavam "A casa é do povo", o que deixou alguns deputados confusos pois sempre acharam ser da mãe Joana.
Parlamentares que se sentiram ofendidos desabafaram: "Isso aqui está uma putaria. Somos todos profissionais aqui! Estamos trabalhando! Pedimos que os amadores se retirem do ambiente!"
 "Não é assim que vão conquistar os votos desse plenário. Eu faço um apelo para aqueles que querem ver essa matéria votada, sem discurso fácil e demagógico, retirem-se do recinto." Logo em seguida os computadores entupiram o servidor de rede do plenário com consultas ao google da palavra "demagógico" e "recinto".
A bancada de oposição pediu esclarecimentos sobre os valores envolvidos e os números dos cheques a compensar. Os deputados prometem votar a matéria assim que os devidos valores forem compensados no banco.
Após o incidente, já se ouvia pelos corredores reclamações de estresse devido aos atribulados dois dias de trabalho semanais, pedidos de recesso e negociações de atestados médicos. 

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

O Moço de Deus

Wallace
Texto do meu aluno Wallace Miapet

Aparecido era o nome dele. Não era bonito, não tinha nada de atraente e nem mesmo era inteligente, porém vivia sempre atrás de uma namorada. Como todas as moças do bairro já tinham desprezado ele, só havia lhe restado as garotas de uma igreja evangélica do bairro.
Ele começa a frenquentar essa igreja, e de cara já encontra uma vítima. Era uma moça tímida, muito bonita, mas não sabia como mostrar sua beleza. Se chamava Vanessa e era nova na igreja.

- Boa noite, branca de neve.
 Disse o garoto, todo desajeitado, com um guarda chuva enorme na mão e de bicicleta. Já tinha começado mal, já que a garota era complexada com sua palidez.

- Paz do senhor, irmão.
Respondeu ela, começando a ficar irritada com tamanha inconveniência.
- A senhorita já pensou em arrumar um namorado?
- Claro, como toda moça pensa. Mas eu estou esperando um moço de Deus.
- Se eu te disser que eu sou esse moço de Deus.
Ela olha com espanto para o rapaz.
- Eu viraria atéia.
- Por quê?
- Cara, eu leio bíblia todo dia, tenho voto de castidade, não perco nenhum culto e ainda canto no louvor. Se minha recompensa, de fazer tudo isso, é ter você como namorado, eu posso acreditar em um Deus assim?

Aparecido sem graça com a responde:
- Para uma moça que se diz tão certinha até que você é bem cruel.
A garota já irritada se afasta daquele rapaz irritante.
-Passar bem, irmão.

Então ela se afasta e deixa o coitado do Aparecido arrasado com sua resposta, que, cá entre nós, foi bem cruel mesmo. Mas aquele abatimento foi momentâneo. Aparecido logo se recompôs quando viu outra irmã indo embora pra casa.
- Paz do senhor irmã, a senhora está à espera de um moço de Deus?


E assim foi com todas as fiéis daquela e de muitas outras igrejas, até o dia que “O Moço de Deus”, como ficou conhecido em toda a cidade, encontrou a sua benção. Uma moça que de Deus não tinha nada, mas o fazia muito feliz. Mesmo ele tendo que pagar R$50 por encontro.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Vida de condomínio: Quebrando Regras

Ser humano é ligeiro para quebrar regras. Sempre tem gente disposta a quebrar, nem que seja uma regrinha boba qualquer. E, no meu condomínio, todos são excessivamente humanos! Quando o marasmo começa a bater, uma reunião é marcada para criar regras a fim de serem descumpridas. É como a comissão de decoro do Congresso Nacional.

Talvez seja carência afetiva do síndico: um senhor de meia-idade, morando sozinho, não recebe visitas e, pra espairecer convoca uma reunião para criar regras novas. E as pessoas embarcam. Discutem, brigam, levam à sério e até dão baixaria pela aprovação de regras novas... Simplesmente não consigo entender essa tara de reunir uma galera, num salão, depois de um dia de trabalho, sem oferecer nem um aperitivo pra criar discussões e votarem regras que ninguém seguirá. Isso é conspiração pra derrubar audiência da novela?
Proibido lutinha com elefantes

Vou exemplificar:

Foi proibido cachorro na área comum, mas, desde então, o prédio não precisa mais de adubação, nem no jardim, nem na área cimentada.

Não pode fumar na escada de incêndio mas aquilo já virou a sauna da nicotina. Um dia desci pela escada e saí de lá com os dentes amarelos!

É incrível a disposição para o absurdo.

Nunca vi ninguém correr ou fazer qualquer estupidez no estacionamento. O síndico aprovou em assembléia que deveria colocar placas "velocidade máxima 10Km/h". A partir daí, foi necessária outra assembléia para aprovar radares ao longo do condomínio. Tinha até campeonato de racha na sexta a noite. A coisa era realmente bem animada.


Não alimente o boto mutante com crianças.
Depois, veio uma placa: "proibido apertar todos os botões do elevador". Resultado: eu moro no décimo andar e, de escada, chego mais rápido que o elevador!

São sempre placas ridículas proibindo o óbvio. Coisas que nunca tinham acontecido até a afixação da placa:

"Proibido cantar o hino do Íbis na terça-feira de manhã". Resultado: Vamos meu Íbis pra luta / E em qualquer disputa / Estaremos ao seu lado / Vai dar tudo no gramado...

"Proibido quebrar o dedo mindinho, do vizinho esquerdo, em noite de lua-cheia". Resultado: festival de talas e gessos na lua minguante.

Tinha até uma placa proibindo colocar placas! É tudo tão surreal, que estou certo de que meu condomínio foi pintado pelo Salvador Dalí.

O dia que colocarem "proibido sexo na área comum do condomínio", aí sim vai ser um pegapracapar!

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Império nórdico pede nota

Professor baixinho, franzino, na sala, puto da vida, fechando a nota. Um aluno (novo) não entregou nada.

-Quem é o Roberval?
-É o King, professor!
-Cadê ele?
-Que é? Levanta um menino enorme, albino e tranças loiras, cheio de músculos. Conciso, sisudo e meio ogro.

"King? Por que King? Será de Rei? Será de Viking? Será de Rei Viking?"
O professor começava a experimentar a sensação de um aldeão da Idade Média sendo saqueado pelos nórdicos.

-Desde quando você está aqui?
-Um mês e meio.
-E você não fez nada? Não entregou nada? Nenhuma atividade?
-...
-Me diz uma coisa: de que escola você veio?
-Isoldina.
-Certo. E agora? Que nota eu fecho?
-Dez.
-Dez? Rá, meu amigo, pra dez você tem que suar, hein!?
-...
-Me diga, por que King?
-King Kong.
"Bom, racismo não é, certamente é o tamanho do moleque!"
-Peguei uma professora pelo pescoço. Parecia o King Kong segurando a Ann Darrow.

O moleque gesticulava retesando os músculos e fingindo quebrar algo entre as mãos. Certamente a professora ficou minúscula na estrutura marombada do garoto. As veias do pescoço saltavam tingindo o rosto de avermelhado e ele já se inclinava indo em direção ao professor:

-Caramba, rapaz, quanta eloquência! É um gênio da retórica! E quanto conhecimento geral, cultura pop... -ele sabe do King Kong e da loirinha do filme - acho que vou te dar um sete de média!
-Sete? Dez! Cultura geral e leroquência!
-Concordo! Mas você tem que entender que minha matéria é química!
-...
-Se fosse redação você ficava com dez o resto do ano, né?
-Ah tá!

Tudo bem que, na realidade a matéria era sociologia, mas o nervoso o fez chutar para bem longe das Ciências Humanas. O importante era mudar o foco:

-Escuta, já ouviu falar de Thor?

terça-feira, 30 de julho de 2013

Volta das férias e o Manual de gestão pública

Um mês inteiro assim. O problema é a lombar.
Opa, acabaram as férias. Nem senti o cheiro! Me pus a pensar durante o mês inteiro o quanto somos agraciados por competentes governantes que aí estão. Lembrei de medidas simples que resolveram problemas crônicos em nosso país e não pude deixar de compartilhar aqui com vocês!

Acho que poderemos fazer um manual de gestão pública:

Há uns vinte anos o Governo Federal se propôs acabar com o analfabetismo. Chamou os melhores ministros, reuniu políticos, deputados e senadores para compartilhar dessa preocupação e, brilhantemente, ficou decidido que, para acabar com o analfabetismo, iriam considerar analfabeto aquele que não consegue nem desenhar o nome.

Depois, há dezesseis anos, o governo do Estado ficou preocupado com o índice de repetência. As crianças estavam repetindo muito, não aprendiam direito. Implantou a aprovação automática...

Dali, para resolver o problema da pobreza e miséria no país ficou fácil: é só baixar o valor de renda considerada nível da pobreza! Agora é tudo classe C!

Os problemas do Brasil estão sendo dinamicamente resolvidos.

E essa forma de resolução está criando escola:
Hoje soube que o governador de SP estava preocupado com a saúde dos professores. Disse que não gostava de ver os professores doentes. Depois de muita consulta a órgãos internacionais e especialistas em saúde e gestão, ordenou que os peritos não dessem mais licença médica... simples!

Já é até desculpa de corrupto. O dinheiro público é mal investido? então vou roubá-lo e investir bem.

Hospitais públicos estão caóticos? É só fechar as portas. Fica tudo vazio, tranquilo...

Eu quase morro de orgulho! Só não morri porque quero ver o último capítulo da novela.

O fato é que o governador se inspirou na Angelina Jolie e mandou arrancar as pernas pra evitar unha encravada...

terça-feira, 2 de julho de 2013

O samba, o trem e o Arnesto

Década de 60, um casal namora no bailinho do centro da cidade. Era aqueles tempos em que as moças diziam não porque era de família. Os homens iniciavam em casa de tolerância. Terninho para o público masculino era de praxe e moça que prestava usava vestido comprido e rodado com cachinhos no cabelo.
Ela, moça recatada. Ele, malandro descolado. Ela, fazendo charme e trejeitos. Ele, tentando uma casquinha. Ela, dizia não. Ele, tentava: vai que sim. Ela, sorria e desviava. Ele, beijava o ar. Ela não ia. Ele se impacientava.

Era tanta mulher dando mole no salão e ainda o convite para samba do Arnesto correndo no Braz.

-Bom, acho que vou indo!
-Amor, fica mais um pouquinho?
-Não posso, não posso nem mais um minuto.
-Ah, por quê?
-Moro em Jaçanã, é longe.
-Mas como você vai?
-Vou de trem,
-De trem?
-É, o último é às onze. Se eu perder...
-Mas não tem trem pra lá às onze...
-Bom, mas eu vou de carona...
-De trem, ou de carona?
-Bom... é... é.... minha mãe não dorme enquanto eu não chego.
-O quê? Um marmanjo dessa idade?
-Verdade! Eu sou filho único! Ela tem medo de dormir sozinha.
-Mas espera só mais um pouquinho! Você já vai...
-Não dá, tenho que ir pra acordar cedo e arrumar a casa.
-Sua mãe não faz isso?
-Faz, faz, mas é que...

Ele virava os olhos. A moçada toda indo pra casa do Arnesto e ele ali! Disse que ia ao banheiro, beijou algumas no caminho, se encontrou com a moçada e rumou para o Bráz. Mas isso já é uma outra história...

terça-feira, 25 de junho de 2013

O homem do cérebro invisível




Essa é a qualidade da lógica de um desembargador, que disse, hoje, na rádio, ser a favor de julgar adolescentes infratores como adultos.
A discussão surgiu ao noticiarem um adolescente que passou dez vezes pela Fundação Casa e estava voltando mais uma. Na cabeça do desembargador isso prova que ela não recupera os adolescentes. Ótimo. O problema é a conclusão que temos que julga-los como adultos.
Cadê a sequência lógica nisso?
Claro, senhor desembargador, vamos julga-lo como adulto e por numa prisão comum. As prisões brasileiras são mundialmente reconhecidas por recuperar os presos, certo?

Ele continua o disparate afirmando que o Estatuto da Criança e do Adolescente foi criado em outra época, para sanar outras necessidades. É mais ou menos o mesmo com o cargo de desembargador: foi criado em outra época, para outras necessidades, com um supersalário de outro mundo. Seriam dois exemplos de apêndices a serem extirpados?

O raciocínio do cidadão é mais ou menos assim: Ele compra uma floricultura, não sabe cuidar nem nunca cuidou de flor. Aí ele mistura todas as flores e amontoa na meia sombra, depois fica fulo da vida porque umas estão apodrecendo, outras o furaram com espinhos, e diz que elas não prestam e que deviam ir para o lixo.

Camarada, não passou pela sua cabeça que a Fundação Casa não recupera mesmo? Nem presídio nenhum, no Brasil! Isso não é premissa para defender um julgamento como adulto, mas para mudar o sistema.

Será que ele brincava de esconde-esconde, achando que era invisível, quando criança?

Como será que ele consegue argumentar nos processos?

É esse o nível mental que ele anda por aí usando?

Não sei direito o que faz um desembargador, só espero que esse aí não me desembargue!

terça-feira, 18 de junho de 2013

Fantasias de criança

A menina tinha uns dez anos de idade, chegou em frente à sala, respirou fundo e bateu na porta:

-Sr. Diretor, quero fazer uma reclamação.
-Pois não, pode entrar. O que está acontecendo?
-Os meninos da sala ficam me chamando de Julia.

O diretor franziu a testa, encolheu os ombros. E procurou as palavras em volta, como se estivessem escritas nos armários e paredes da direção. Era uma situação muito incomum na escola.

-Mas, se não me engano, seu nome é esse mesmo, certo?
-Era! Não é mais.
-Como assim? Você mudou de nome?
-Sim, agora me chamo Thundercats.
-Thundercats? Como assim? O grupo inteiro, ou algum personagem do desenho?
-Thundercats, bem assim, só isso.

O diretor não entendia. Criança sempre inventa coisas assim, quer mudar de nome igual ao do super-herói, fantasiar, brincar. Esse reclamante estava na quarta série, portanto ainda estava na faixa de idade para brincadeiras e fantasias, mas mudar o nome? Isso era estranho, ainda mais se tratando de um nome do grupo, não de um personagem específico. Dali a pouco entraria alguém querendo se chamar Liga da Justiça! 

-Mas por quê você quer mudar? Julia é um nome tão bonito. Além do mais, Thundercats inclui homens e mulheres!
-Tá, mas eu prefiro Thundercats. É muito melhor. É questão de identidade, auto-estima e reconhecimento.

A fama da menina era realmente de ser eloqüente, inteligente e argumentadora. O próprio diretor já havia visto videos na internet de menina que questiona a cor rosa, menino que questiona comer polvo, já estava preparado para lidar com pequenos prodígios, mas nunca havia necessitado argumentar com um deles. Ainda mais no trabalho. 

-Certo, Julia...
-Thundercats!
-Certo, Thundercats. Percebo que você é muito inteligente e aprendeu muito com a palestra de ontem.
-Isso mesmo, não me sinto Julia, me sinto Thundercats.

A palestra, sobre diversidade e questões de gênero, foi sugestão dos próprios pais. A escola atendia uma clientela de pessoas cultas e inteligentes. 

-Eu aprendi sobre respeito à diversidade - continuou - sobre aceitar e respeitar o nome que o transexual adotava, como forma de reconhecimento da identidade. Eu não sou transexual, mas não me sinto Julia.

A menina era astuta, como o diretor poderia contrariar sua vontade depois de tanto trabalharem o assunto?

-Bom, concordo com você, que devemos respeitar sua vontade e aceitar o nome que você escolher, mas tem um pequeno probleminha.
-Qual?
-O nome Thudercats é uma marca, um produto e tem um dono, se você quiser usá-lo, terá que pagar direitos autorais.
-Direitos autorais?
-Claro, é como uma marca, se você quiser pode se chamar Nike ou Adidas, mas terá que pedir autorização da marca e pagar uma boa grana pra eles!
-Muito?
-Ixi, você nem imagina, acho que você ficaria uns três natais sem presentes!
-Sem presente? E aniversário?
-Sem prensente também, nem no dia-das-crianças!
-Três?
-Isso. Ou quatro.

A menina voltou pra sala pensativa, sentou ao lado da Maria Eduarda e falou:

-Duda, se Thundercats custa três ou quatro anos, acho que X-Men vai te custar uns dez...

segunda-feira, 17 de junho de 2013

A Curva do Rio

Dica muito interessante de leitura



De Carlos Biaggioli

Porto de Ideias Editora

60 páginas

Contos – Ritos de Passagem

Prefácio: Luis Alberto de Abreu

Arte: Jerusa Messina


Escritor desde a idade de 13 anos, foi em 2005 que Carlos Biaggioli se aproximou do núcleo de pesquisa “Narrativas de Passagem”, um projeto que o dramaturgo e roteirista Luis Alberto de Abreu desenvolveu na Escola Livre de Teatro, sediada no município paulista de Santo André.


Tratava-se de uma pesquisa voltada à arte da narração, tendo por base a oralidade. “O processo que resultava na história a ser narrada era algo fabuloso, que me marcou profundamente, pois partia de histórias e depoimentos muito pessoais e isso ia sendo lapidado com tanto respeito e criatividade, que acaba se tornando um bem coletivo, a exemplo do que acontece com as mais belas histórias contadas de geração para geração”, lembra Biaggioli.

Nossa sociedade, com o passar dos tempos, gradualmente se distanciou da capacidade ritual. Hoje em dia, nossos doentes são encaminhados aos hospitais e deixamos nossos mortos aos cuidados de empresas funerárias. A ideia contemporânea de morte é encarada com mal disfarçado terror – o que faz com que pessoas saudáveis tendam a uma natural tentativa de isolar e afastar essa complexa e traumática passagem Nessa tentativa de afastar a morte do convívio diário, vão para a margem da vida os doentes, principalmente os terminais. Isso não ocorre apenas com a passagem da morte – ela é apenas a mais complexa, dentre outras, como a adolescência, a vida adulta, a velhice ou situações como violência, cirurgias traumáticas, entre outras. 

“Narrar histórias é uma arte. Não basta ler palavras escritas num livro ou reproduzir palavras guardadas na memória. Narrar é guiar o ouvinte para um tempo e lugar evocados pela imaginação de ambos, criando uma atmosfera onde sonhos transformam a realidade”, define o site* do Instituto Narradores de Passagem, que realiza roda de histórias, oficinas, cursos, workshops e espetáculos.

Foi no processo de geração destas histórias que Carlos Biaggioli produziu sete dos nove contos que compõem “A Curva do Rio”, lançado em junho de 2013 pela Porto de Ideias Editora, em São Paulo.
É o próprio Luis Alberto de Abreu quem assina o prefácio do livro, segundo o qual, “o autor brinca, por vezes despudoradamente, com a fábula, com figuras mitológicas e os mistura com personagens aparentemente reais. E o estranho aqui é original, altamente positivo, pois se integra como característica narrativa que, ao contrário de destoar, torna-se elemento de composição”.

Instituições afins e pessoas físicas interessadas em adquirir o livro ou principalmente em promover o debate em torno desta temática, os ritos de passagem, podem procurar pelo autor acessando www.carlosbiaggioli.com. Carlos Biaggioli pode também ser contatado diretamente pelo (55 11) 9.7082-6200 ou pelo email biaggiolic@gmail.com.