Google+ O Riso e o Siso: abril 2013

terça-feira, 30 de abril de 2013

Churrasco de domingo - ou uma pequena parábola sobre as divergências

A discussão pega fogo
Domingo de sol, o frio deu uma trégua e o pessoal combinou um churrasco pra celebrar. Cada um levou um pouco de carne e bebida pra somar. Um típico churrasco da galera.
As carnes foram guardadas, assim como as bebidas e, por algum motivo inexplicável, resolveram esperar a carne para começarem a beber.
Mas, na hora do preparo, cadê o sal?
-Tem sal grosso e sal fino.
Foi o suficiente para uma profunda cisão entre os convivas. Cada lado argumentava e rebatia os argumentos contrários. E isso era feito com tanta paixão que em pouco tempo já planejavam manifestos e trabalhos acadêmicos defendendo suas posições! Enquanto o debate pegava fogo, a churrasqueira gelava...

Os mais puristas diziam que o sal grosso era mais saudável e tradicional. Os mais moderninhos preferiam o refinado, iodado, coisa de gente civilizada. Uns queriam seguir a receita do avô, outros achavam que aquilo era um pensamento infantilizado e retrógrado.
O debate se estendeu pela tarde. Agressões verbais surgiram de ambos os lados:
-Você é uma anta, não sabe o que diz!
-Eu sou uma anta? Você que é um hipócrita tentando aliciar as pessoas para te beneficiar!
-Hipócrita é você!
-Você é um hipócrita.
-Você que é um hipócrita.
-Você é um hipócrita.
-Você que é um hipócrita.
-Você é um hipócrita e um safado.
-Você que é um hipócrita! depois de alguns segundos ele percebeu: Safado? Safado? Safado é você seu mentiroso!

Aqueles que antes assistiam e tomavam partido já passaram a espectadores. Os mais apaixonados ficavam no centro do debate, tentavam agitar os demais e arregimentar adeptos. Mas havia a fome. O debate girava em torno do modo mais conveniente de se temperar um churrasco, ou talvez do modo mais tradicional, ou o mais prático, o mais saboroso, sei lá. Ninguém entendia muito bem as posições defendidas, ora o grupo do primeiro argumento defendia o segundo e o pessoal do segundo contrariava defendendo um terceiro e aquilo já parecia uma ciranda. Um grupo cada vez menor debatia e o resto assistia.

Algumas barrigas berravam. O resto das barrigas roncava.
A fome incomodava na proporção inversa à paciência. Os debatedores, agora reduzidos a um pequeno grupo, auto-intitulado vanguarda do sal, usavam argumentos sobre a vontade dos demais, a necessidade dos demais, a real necessidade dos demais, a vontade consciente, vontade inconsciente, ficavam cada vez mais ininteligíveis. Os demais só queriam um pouco de carne e cerveja para terminar o domingo de barriga cheia. A carne e a cerveja que cada um trouxe.

Foi quando um dos participantes resolveu o problema do tempero usando açúcar. Uma receita tailandesa de molho agridoce passou a ser vendida para que cada um pudesse comer a carne que trouxe. Fez dinheiro! Não era a melhor opção, nem a melhor combinação para a cerveja, e estava longe da preferência geral, mas, àquela altura, quem se importava com isso? Aliás, quem sabia o que aquele pessoal preferia?

links relacionados:
Da Vinci na Babel do Tempero

sábado, 27 de abril de 2013

O Charnel De Dona Bherta É De Bofofó!


Por Dr. Delfino Anfilófio Petrúcio*
Palhaço, pára-guru filosofático de Quinta Categoria, PhD em Charme, Beleza, Elegância e Gostosura, formado pela Universidade de Modéstia, com pós-graduação em Coisíssima-Nenhuma-e-Algo-Mais

Eu já estava a quase meia-hora aguardando e nada da atendente. Maldita hora que resolvi usar a internet para comprar aquelas três peças da minha máquina do Tempo, que ideia! E justamente agora que estava tudo tão bem encaminhado para o armistício entre Caim e Abel... que diacho! Porque vou falar uma coisa a sério, viu: ô troço difícil de destrinchar, essa história de ciúme e inveja, afff! Só aceitei o caso por causa de dona Bherta...
– Ah, doutor, não custa nada, vai!
– Mas, dona Bherta, não é que eu não queira, não se trata disso. Mas temos uma fila, não temos? Me diga: como está o agendamento da terapia de casal de Cleópatra?
– Ah, doutor, aquilo é caroço de angu, viu.
– Como assim?
– Ah, aquele um, o seu Marco Antonio, é um sabonetão. Coitada da dona Cléo. Nem te conto. Mulhereeeeeeeengo, o traste! Não satisfeito com a renca de filho que tirou da dona Fadia, ainda fez a festa com a dona Antonia Híbridra, olha só que nome besta, doutor!
– Dona Bherta, nós temos um compromisso ético de jamais...
– Ára, bobagem! Seo Marcantonho não parou aí, não. Antes de cair nos braços da dona Cléo, passou ainda no bem-bão da dona Fúlvia e da dona Otávia
– Minha paciente é a Rainha do Nilo!
– Essa sim, viu! Da pá virada... Vida intensa, doutor! Afff...
– Pelo amor do Grande Narigudo, dona Bherta, que falta de compostura científico-moral! Além do mais, criatura...
– Não aprecio quando o doutor me chama assim. Se me dá licença, vou para minha sala fazer...
– DONA BHERTA! Vamos, abra o jogo. O que foi que a senhora resolveu aprontar no meu consultório, dessa vez?
– Foi preciso, doutor Delfino!!! Eu nunca faço por mal. Eu sou do Bem!
– Quantas vezes vou ter que lhe pedir para parar de uma vez por todas de usar minha Máquina do Tempo como se fosse brinquedo?!
Para que?! A mulher colocou as mãos na cintura e eu sabia muito bem o que aquilo queria dizer. Lá viria uma lamúria imensa, uma ladainha infinita sobre “tudo o que ela já fez por mim, por meu consultório, por meus clientes, pelo país e pelo planeta em todas essas décadas em que vem servindo como fiel escudeira de um louco amalucado” e blá-blá-blá... Só para você ter ideia, teve uma vez em que, não satisfeita, subiu no parapeito da janela do consultório e recitou todo o monólogo de Hamlet, usando um dos meus sapatões de estrelas aboboradas à guiza de caveira.
– Eu não faço nada por mal, doutor! O que acontece é que...
– Sim?
– É que, às vezes... não muitas vezes, evidentemente...
– Desembucha logo, dona Bherta!
– Bem, admito que há ocasiões em que me equivoco. #prontofalei
Isso já havia acontecido outras vezes, mas fiz vista grossa. Até porque, nos dias de hoje, não está nada fácil arrumar uma secretária como dona Bherta... quase mãe!
– Qual foi o plano original dessa vez, se é que posso saber?
– Bem, doutor, não sei se, eticamente falando, seria correto eu ferir o sigilo...
– DONA BHERTA!!!!
– Talvez o doutor aceite uma chuva de bolinhos de confetes, antes, com chá de cócegas? Posso preparar num instantinho, não me cus...
– A senhora conhece o caminho do departamento pessoal? – às vezes, o blefe é um ótimo caminho.
– Grosso! Está bem, está bem... eu falo. Mas, antes de mais nada, que fique bem claro que eu só faço tudo por bem, porque eu sou do Bem!
– Qual foi o equívoco, dona Bherta?
– Eu... sabe como é, né, doutor... a gente tem curiosidade! Hihihihi! – odeio quando ela dá essas risadinhas pseudo-pueris! – Então. Eu sempre quis saber, curiosidade feminina, sabe...
– Não saberei até a senhora me dizer...
– Sim, sim, claro, eu sei...
– Então?
– Pois então, essas coisas ninguém conta e o povo fala, passa o tempo, quem conta um conto aumenta um ponto e o conto ganha reconto e perde desconto e aí, o senhor sabe, fim de papo e ponto.
– ...
A mulher já ia se retirando quando flagrei o golpe.
– DONA BHERTA!!!! Por acaso a senhora está vendo um P de “Palhaço” impresso aqui na minha testa?
Ela olhou atenta e demoradamente...
– Na testa não, doutor. Somente em todo o restante.
– Quer me fazer o favor de dizer de uma vez por todas para onde é que a senhora quis ir na minha Máquina do Tempo?
– Está bem, chega. Eu confesso. Vou me sentir mais leve, mais plena, mais mulher depois disso...
– Ai, meu Grande Narigudo!
– Eu nunca aceitei de corpo e alma aquela história de virgindade... quis tirar aquilo tudo a limpo, como o senhor não estava e eu já tinha encerrado meu expediente aqui no consultório, achei que não seria nada mal dar um pulinho lá e ver como as coisas se passaram... Sabe, conferir no tete-a-tete, como se diz hoje em dia!
– Dona Bherta... – congelei. – A senhora não teria...
– Ah, não, o senhor que me desculpe, mas sai pra lá que o charnel aqui é de bofofó! Ou o doutor pensa que eu, aqui, no auge das minhas tantas décadas, ia cair na lorota do anjo que veio e palalá e pololó e tudo ficaria no dito-pelo-não-dito-e-viva-o-benedito?
– A senhora, por favor, tenha mais respeito com a mitologia alheia, porque, se tem coisa que...
– Ora, vamos deixar de lérias, doutor! E o pobre do marceneiro, ninguém quis saber como se sentiu?
– Dona Bherta, por favor! Isso é um terreno perigoso, pode manchar a reputação do meu consultório... Vão falar em desrespeito, posso perder clientes!
– Mas por que isso aconteceria, doutor? Só porque eu quis visitar e conversar com meu tio-avô, que criou o filho que a esposa teve com aquele galego chamado de Anjo?
Por questão de precaução, mandei-a cancelar a terapia de casal de Cleópatra e Marco Antonio e deixar para o futuro a reconciliação de Caim e Abel...

* Doutor Delfino é o alter-ego do escritor Carlos Biaggioli (biaggiolic@yahoo.com.br)

terça-feira, 23 de abril de 2013

Buracos ACME


Cuidado com eles
Caixas de buracos ACME
Tenho medo dos buracos ACME! As pessoas pensam que é mentira, coisa de desenho infantil, mas como me explicam os buracos enormes que aparecem nas ruas, sob o asfalto, sem mais nem menos? Guerra dos Mundos? Não! Buracos ACME! A Terra tá virando um grande queijo suíço. Veja bem, ali era uma rua de terra. A terra era compactada, terra batida! Chovia e o que acontecia? Ficava cheia de barro, a água escorria e levava a terra e você via como e onde ia. No máximo abria um rasgo na rua. Nada de vala, uma cratera ou buraco parecendo um ralo! Nada!
Aí colocam uma camada de asfalto por cima, uma coisa que era pra proteger da chuva. Passa o trator, compacta ainda mais a terra, põe pedra e o caramba pra deixar firme e quando chove, surge uma cratera enorme! Caminhões de terra sumiram dali de baixo do asfalto! Pra onde foi? como saiu dali? como a água levou a terra compactada e protegida? A única resposta lógica e plausível pra isso é: buracos ACME!
Pensa bem: o asfalto é duro pra cace... Não quebra com martelada, com chute nem paulada. Precisa de uma escavadeira. Mas uma chuva passa e abre um monte de buracos! Será que o problema é a chuva? Sei lá, e se caio nesse buraco? E se essa chuva cai em mim?
Uma vez, em Marília, passou na TV a notícia de que o fulano de tal estava de bicicleta na avenida quando foi surpreendido por um buraco. Putz, o buraco pulou na frente do cara! Esse era um buraco ACME! Você compra ele, vem numa caixinha, parece pizza, mas quando você abre tem um buraco dentro. Você pega com muito cuidado pela borda e cuida pra não cair dentro, nem pra que ele caia sobre você. O ciclista não apareceu na reportagem, nunca foi visto! Caiu no buraco bau-bau, já era! Você some. Vira um não-sujeito. Vai andar por aí só a ausência tua...

sábado, 20 de abril de 2013

Tratamento Tarja Preta pra Papagaio de Pirata


Por Dr. Delfino Anfilófio Petrúcio*
(Palhaço, pára-guru filosofático de quinta categoria e PhD em Charme, Beleza, Elegância e Gostosura, formado pela Universidade de Modéstia com pós-graduação em Coisíssima Nenhuma e especialização em Algo-Mais)
Estava eu em meu iglu no Polo Sul, para onde vou aos finais de semana com Atadolfa e as crianças (Agripina Popish, Lolys de Loliis e Diolindo Porcento). Jantávamos brigadeiros com vinho de bolhinhas de soda anil e falávamos de coisas sérias da vida, tais como o atendimento que precisei fazer a cada um dos sete anões depois que o Príncipe, segundo eles, “se atreveu a beijar Branca de Neve”, o que tirou de cada um dos quais a oportunidade tão acalentada durante os tempos que a branquela viveu entre os nanicos. Diolindo sempre se identificou muito com os Anões, principalmente com seu ídolo, o Zangado. Lolys, por sua vez, melotragicodramática como sempre, não se conformava com o destino dado à pobre maçã...
– Como pode, budias (é assim que ela me chama)? Sempre a culpa é da pobre da maçã, tadinha? Primeiro a Eva! Depois a Branca de Neve! Depois o Steve Jobs! Que falta de respeito com uma frutinha tão vermelhinha, redondinha e gostosinha, gente! Buááááááááá... – Aí, era meia hora de choro trágico, até que simplesmente parasse, abrisse um sorrisão de leste a oeste e se curvasse, pedindo nossos aplausos – coisa que só pararia de fazer quando lhe entregássemos a velha estatueta do Oscar de sempre... um TOC, praticamente.
Mas não vamos nos desviar do assunto, porque hoje eu não to nada bom... e quando eu não to bom eu fico pior ainda. E mais ainda quando sou interrompido pelo pouso do meu Papagaio-Correio bem na hora que dona Atadolfa Broshaska me preparava uma deliciosa Chuva de Bolinhos! Não adiantou nada simplesmente ignorá-lo, até porque, convenhamos, quando um papagaio resolve se manifestar, haja! E o mais curioso que geralmente se nota nesse tipo de manifestação é que o dito-cujo é um imitador! E o mundo tá bem lotadinho de casos assim, não é mesmo? Papagaios gritões, até divertidos se a gente não aprofunda muito o olhar nem a escuta... porém, no mais fundo fundo do mais profundo e intrínseco fundo do lado mais interior de dentro, se a gente reparar bem, dá com as fuças naquilo que a imitação traz de vivo em si. E aí...
E Vincent Vermonth, este meu papagaio, vem de linhagem nobre, já que é filho e neto de papagaios da minha família. O pai de Vincent serviu a meu pai, o Palhaço Contador. E o avô dele, a meu avô, o Palhaço Murruga. Meu avô era capaz de jurar com a mão na bíblia que a linhagem dos nossos papagaios-correio ia fatalmente dar nos anos de 1700, nos mares antigos, a era dourada dos imensos navios piratas... Pode até ser, porque, sendo um filhote do outro, pelo jeito os papagaios da nossa família conviveram entre si e, portanto, imitaram uns aos outros. Entre bravatas da minha esposa Atadolfa e exclamações de baixo calão certamente apreendidas na quitanda do Leopoldão, Vincent vive incutindo em seus discursos e monólogos nomes como Barba Negra, Bartholomew Roberts, “Calico Jack” Rackham, William Kid ou “Black Bart” Roberts, cruéis bandidos do mar – um saco, pois minha filha Agripina Popish logo vem de dedo em riste querer convencê-lo de que, no Brasil, a pelo artigo 13º da Constituição vigente, o idioma a ser praticado oficialmente é a Língua Portuguesa. E, por fim, dava dó de Vincent sempre que Diolindo, meu caçula, resolvia brincar de Caça ao Tesouro...
Enfim, a mensagem trazida por Vincent já vinha com mau agouro: estava amarrada na sua patinha esquerda, o que, por si só, na minha família, já significava um código. Atadolfa percebeu no ato – tanto que, ao distrair-se, levou um bolinho bem no olhão direito, o que aumentou em meio-grau a diametragem bilateral da longetudinidade do seu globo ocular esquerdo (pois o Grande Narigudo escreve certos por linhas tortas, como se sabe). Abri a mensagem:
-- Ele está no seu consultório. E não está nada bem, doutor. Bherta (sempre)
Sem nem sequer saber do que se tratava, Atadolfa sacou imediatamente que se tratava de algo de suma importância. Sinal claro disso: foi pular Amarelinha, que é o que sempre faz quando quer me dizer: “Vai logo, seu monstro, abandona sua família, desalmado impertinente que eu amo tanto”. Portanto, fiquei feliz em saber que tudo ficaria bem, na minha ausência. O importante agora era encontrar e atrelar ao meu trenó chinês Sigmund, Carl e Wilhelm, meus três huskys siberianos. Deixei isso a cargo de Lolys de Lollys, minha filhota do meio. Ela já aprendeu como atraí-los...
– Ah, Budibú (é assim que ela também me chama!), é fácil. Pra chamar o Sig basta soltar a Amalie Nathanson, sua mãe. Funciona sempre!!! O Carl eu boto pra dormir e falo coisas na orelhinha dele, criando símbolos em seus sonhos... E o Wilhelm, Budias... bem, prefiro não comentar os meus métodos com ele!
Estava absolutamente sem tempo para destrinchar esse pepino e o deixei aos cuidados de Atadolfa, afinal: “mãe é mãe”. E o fato é que deu certo. Em pouco tempo lá estava eu a mil por hora em meu trenó, rumo ao meu consultório, situado em local secreto ao sul do hemisfério sul. Durante todo o trajeto, uma forte preocupação, que, por incrível que possa parecer, nada tinha a ver com a grande parte da mensagem, mas, sim, referia-se à última palavra: sempre. Quando dona Bherta a colocava após – e não antes – sua assinatura, eu compreendia muitíssimo bem o recado:
– Podemos falar sobre aumento de salário?
Quando cheguei ao consultório, “ele” realmente estava lá. E realmente não estava nada bem. E realmente, considerando a carteira de trabalho dependurada no pescoço, dona Bherta estava decidida a falar sobre esses assuntos mundanos comigo, o que geralmente me desconcentra demasiado, nessas horas de apuro profissional. E realmente percebi que, antes de mais nada, precisava desopilar: abri minha torneira de choradeira e pronto... como num passe de magia, vi-me livre da carteira de trabalho de dona Bherta, que saiu aos piparotes, o que gerou uma tossidela n“ele” – o que equivalia a uma frondosa gargalhada.
– O que se passa, dessa vez? – desferi, a queima-roupa.
– Sou o que, afinal?
Oh, meu Grande Narigudo! Existencialismo, nessa altura do campeonato? A resposta imediata que me vinha na cabeça era: um bolinho de chuva!!! Mas preferi ouvi-lo mais, afinal de contas, “ele” (cuja identidade não estou autorizado a revelar) é “ele”...
– Eu simplesmente não consigo, não consigo simplesmente...
– Tente, eu tenho certeza de que você vai conseguir...
– Ok... – respirou fundo, olhou-me nos olhos e disse, numa só golfada – Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro!
– Ops!
– Mas é o que eu penso! É o que eu sinto!!!
– Mas não é "seu" o pensamento, nem tampouco a frase. É de Clarice Lispector. Vamos, tenha coragem! Assuma! Assine!
– Assumir-me...?
– Isso é vampirismo!
– Meu único consolo: a solidão profunda, escura, uma solidão mortal.
– Ah, que bonito...
– Sinto isso, muito em mim...
– Pode até ser... mas a frase é de Mary Shelley, em "Frankenstein"...
– Ah, é, é? Hum...
– Você tem um tesouro incrível guardado no baú imenso da sua própria memória... Tente!
– Ok, agora eu consigo!
– Tenho absoluta certeza... vai que é tuuuuuuuuuuuuuuuuuuuua!
– Arrá!!! Galvão Bueno!!!
– Foi maus. 
-- Prossiga...
– A vantagem de ter péssima memória é divertir-se muitas vezes com as mesmas coisas boas como se fosse a primeira vez.
– Nietzche...
– Olha, que eu nem tinha reparado...
– E pior: primeiro resultado de busca no Google...
– O que eu sou, doutor.
– Um papagaio de pirata!
– AMADORRRRR!!!!! – gritou Vincent, empoleirado sobre a carteira de trabalho de dona Bherta.
Prescrevi a "ele" dez dias de tratamento intensivo diante do espelho. É tratamento tarja preta! Comigo é assim. Ninguém me tira do meu iglu impunemente...
* Palhaço Delfino é o alter-ego do escritor Carlos Biaggioli (biaggiolic@yahoo.com.br)

terça-feira, 16 de abril de 2013

cirurgião plástico Serial

Há alguns meses eu venho juntando provas e pistas para solucionar um caso. Claro que isso tem a ver com a fissura nos seriados de TV. Viciei em House, Elementary, The Mentalist, Law & Order, CSI e comecei a encontrar quebra-cabeças em todos os cantos. Tudo pode ser uma pista, um indício.
Devorei filmes e livros de Sherlock Holmes e Ed Mort, e saí à caça do maior bandido dos últimos tempos, mas que, até agora, ninguém ainda percebeu: O maldito cirurgião plástico que anda estragando a cara a mulherada!
Eu já havia juntado provas e indícios que o ligava a inúmeros casos, muita gente famosa já foi alvo, descobri um modus operandi, uma "assinatura" do criminoso e já estava fechando o cerco.
Eram tantos casos documentados, tantas vítimas nos programas de TV, novelas em geral, apresentando as mesmas marcas de violência:
  1. Boca de Aspirador de pó: as vítimas sofrem de inchaço e esticamento dos lábios adquirindo a fisionomia de um aspirador de pó.
  2. Susto interminável: As vítimas, devido ao susto na hora do crime, repuxam a sobrancelha e, em alguns casos, ela vai parar no meio da testa!
  3. Dedão tremulante: A pele do rosto é tão esticada que a cada piscada, o dedão do pé levanta.

Mas, quando imaginava estar prestes a colocar as mãos no bandido, descobri imagens da Courtney Cox no novo seriado:

Tarde demais! Agora ele é trabalho para a Interpol!

terça-feira, 9 de abril de 2013

Deite na BR e vá pro inferno...

Liguei a TV no fim-de-semana e vi a Preta Gil cantando "se me odeia, deita na BR". Como assim?? Ela tá querendo parar as rodovias?
É algum tipo de protesto? A Preta Gil ta virando sindicalista! Vai começar a prender a língua pra combinar...
Olha a sequência de terror: Preta Gil, no programa da Regina Casé, cantando "deita na BR"... Alguém tem que ser preso, meu amigo!
Aliás o programa da Regina Casé é o próprio Frankenstein. É tanto corte e tanto remendo que to crente que o editor tem dislexia... não consegue seguir a linha...
O programa tem umas cinco horas de gravação, pra poder cortar e remendar e mostrar 30 minutos na TV.  O trailler é sempre mais legal que o filme...
Se o inferno fosse um programa de TV ele seria uma paródia do "Esquenta".
Por falar em inferno:
Eu vi a notícia de que a Margaret Tatcher morreu. Agora to numa dúvida desgraçada. Se ela for para o céu, ela vai privatizar e a gente vai ter que pagar mais caro ainda pra entrar. Se ela for pro inferno e privatizar, vamos perder o único lugar grátis pós-vida! E quem não puder pagar, vai pra onde?
E quando você mandar alguém pro inferno:
-Só se você pagar a entrada!
Isso vai dar um rolo! Não dá mais pra mandar pro inferno. Logo logo vão regulamentar o trabalho das prostitutas e nem pra puta-que-pariu mais vai dar!
Portaria do inferno
Não é a CPTM

O pessoal que faz baldeação nos trens da CPTM já está acostumado com a portaria do inferno cobrando entrada!


E se o céu for privatizado, o aumento de preço será repassado pra Universal?
Acho que a Preta Gil tá de sócia nessa privatização... Mandando a galera deitar na BR. Ela sabe que uma pá de gente vai deitar... Ainda mais se ela prometer parar de cantar...

sábado, 6 de abril de 2013

Hay que perder la piada pero la graça, Jamas!


Por Dr. Delfino Anfilófio Petrúcio*
(PhD em Charme, Beleza, Elegância e Gostosura. Formado pela Universidade de Modéstia com pós-doutorado em Coisíssima-Nenhuma-e-Algo-Mais)
A pior coisa que pode acontecer a uma criatura é: ser o errado no lugar errado e na hora errada. Isso é pr... ops, perdão. Isso é afrodescendente no branco! Há, no entanto, um lado que pode-se ter como positivo nisso: não é nada pouco conquistar a medalha de ouro no pódium do "Cúmulo da Coincidência".
Explico...
Já imaginaram, por exemplo, quão difícil é, num jogo de futebol, você acertar a bola no bico da quina da trave do goleiro? Vai lá! Sai de casa de manhã, dá um beijo na patroa e promete: "Fica tranquila, querida, hoje vou conseguir ser fulminado por um raio...", vai lá e depois volta (numa mesa branca) pra me contar como foi. Agora inveje a honra de caminhar por aí, assobiando tranquilamente "La Vie en Rose", e puf! Ganhar um boeing 747 bem no cucuruto... já pensou? E, ainda de quebra, como um bônus, sair de cena evaporado, sem deixar vestígio, como num passe de mágica de fazer beicinho chorão no próprio David Cooperfeld!
É um ponto de vista (ou uma vista do ponto) que pouca gente percebe, não acham? Pois bem, se isso, por si só, já não bastasse, imaginem agora o que é ser alguém que TESTEMUNHA a pessoa que, por tamanho merecimento próprio, consegue estar no lugar errado e na hora errada...
Não vou embarcar numas de falsa modéstia, fiquem absolutamente tranquilos, porque essa não é a minha praia. Mesmo porque não tenho praia. Sou, aliás, inteiramente avesso a quem cultiva esse tipo de ilusão: o de que TEM um pedaço de planeta... Sou lúcido! Seria o mesmo que crer que o cão É da pulga, ora pitombas... Mas vamos adiante.
Isso aconteceu naquela quarta-feira à tarde, para um passeio na ilha central da Grande Avenida. Havia acabado de atender em meu divã a treloucada viúva de Pipoquinha da Silva, o palhaço amigo meu que foi encontrado morto diante do seu espelho, depois de uma overdose de cócegas...
Já que suicídio é pano-pra-mais-de-manga, assim que Dona Bherta agendou essa consulta (um dos seus milhares de "encaixes" caridosos), diante da experiência que carrego nesses anos intensos de guru parafilosofático de quinta categoria, grau conquistado às custas de muitos pontapés-na-bunda, tropicões e tabefes nas rosadas faces, tratei de me armar de estratégias mil: risoterapia de choque! Eletrocócegas! Transfusão de ânimo! Extração de caraminholas! Respiração riso-a-riso! Injeção intragargalhandular! Até exame de toque no suvaco me preparei para aplicar na pobre viúva... A preocupação da mulher, no entanto, era diametralmente oposta:
– Doutor, tomei uma decisão.
Todos os meus sentidos se aguçaram, neste momento, ciente e cioso que sou que absolutamente ninguém, veja bem: NINGUÉM tem condição de tomar decisão, uma vez que decisão não é bebida e, assim sendo, não se pode acondicioná-la em taça alguma. Levantei a sobrancelha direita e apurei o tímpano esquerdo para receber o que vinha:
– Eu não quero mais ser eu.
Lá de sua mesa em cerejeira cor-de-âmbar Dona Bherta, minha secretária, tossiu seco, levando-me a cogitar fortemente a possibilidade (mesmo que remota) de aquela velhota ser, além de rabugenta, também indiscreta.
– Veja bem, dona Queijadinha da Silva... Eu compreendo perfeitamente seu estado de choque e...
– Olhe bem para a minha cara, doutor – desferiu ela, objetivamente. – Eu tenho cara de tomada elétrica pra estar em estado de choque, tenho?
– Não, não, mas...
– Não confunda fiofó com bunda, por favor!
– Não confundirei...
– Meu marido dançou na curva, simples assim.
– Que o Grande Narigudo, lá nas alturas, tenha miseric...
– Bobagem! Perdeu o fio da meada... Olhou pro espelho e não viu ali graça nenhuma... Aí apelou e exagerou. Saiu de cena. Fim.
– ...
– A gente, que é palhaço, conhece muito bem a regra, não tem quem não conheça. No máximo, o que muitos de nós tenta fazer é fingir o melhor possível que desconhece a dita-cuja, mas ela é clara: HAY QUE PERDER LA PIADA PERO LA GRAÇA, JAMAS!
– !
– O senhor pode me ajudar a resolver meu darama melotrágico-patético-existencial, doutor?
– Bem, eu... Veja bem, dona Queijadinha... Falando filosófica e antropologicamente, eu creio... Eu penso que... Veja bem... Então...
– Doutor Delfino, anote aí, por favor. Se for difícil, eu desenho.
– Ah, sim, pois não.
– Eu não quero mais ser eu.
– Não quer...
– Não. E não quero também palpite, a não ser que o palpiteiro entre aqui dentro de mim e olhe com olhos bem arregalados a dor e a delícia de ser o que eu sou...
– Já ouvi isso em algum lugar...
– Rede social, provavelmente.
– Deve ter sido. Prossiga, por obséquio...
– Só eu sei amar o que eu amo, querer o que eu quero, sentir o que eu sinto e pensar o que eu penso!
– É bem provável, sim...
– Pois então, doutor! É demais, chega disso! Eu olho pra mim e é como se eu me visse sendo a pessoa errada, no lugar errado e na hora errada, dá pra imaginar isso? Eu não quero mais brincar disso: cansei de ser Augusta, eu me demito!
Devo reconhecer que dona Bherta foi simplesmente genial! Sem mais nem menos, sem eira-nem-beira do toca-K7 explodiu no ambiente a voz maviosa de Cauby Peixoto entoando a plenos pulmões:
– Quem sou eu pra ter direitos exclusivos sobre ela, se eu não posso sustentar os sonhos dela, se nada tenho e cada um vale o que teeeeeeeeeeeeemmm...?
Assim que a viúva se retirou, mandei cancelar todos os agendamentos do dia (inclusive a consulta agendada por Bento XVI) e fui passear na ilha central da Grande Avenida, para soltar umas boas baforadas no meu cachimbo de bolhas de sabão e jamais, jamais esquecer de quem eu sou...
* Delfino Anfilófio Petrúcio é o alter-ego do escritor CARLOS BIAGGIOLI (biaggiolic@yahoo.com.br)

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Sufoco dos 20 x Desespero dos 30

Convidada

Mais uma Quinta de Convidados! Esse é um texto interessante com um ponto de vista polêmico! Vocês concordam com ele?

Por Fernanda Paixão.

Prazer, meu nome é... Bom, isso na verdade não importa muito. O que você precisa saber sobre mim neste texto é, sou uma mulher, tenho meus vinte e poucos anos, sou solteira e observo muito o mundo. Mas quem nunca, neh?
Como mulher posso afirmar, nós todas temos um quê de louca e não, não me pergunte qual é o meu ou de qualquer outra mulher! Acredito que essa questão seja tão delicada quanto peso e idade, para mulheres mais velhas. Mas o que esses apontamentos podem me ser úteis? você pergunta (ou não, eu não estou lendo sua mente) é que estamos vivendo dois movimentos, as mulheres de 20 estão procurando homens que queiram se divertir, se descobrir e que tenham pulso e as mulheres de 30 estão desesperadas pelo homem ideal. Ou o que chegar na frente. Mas como eu posso falar algo assim "contra" o meu gênero? Simples, eu me vejo dentro desses fenômenos! Não vou ser hipócrita, eu me vejo em cada sinuca de bico! Não vou nem começar... muitas palavras, poucas páginas e MUITA censura!
Vamos começar pelos mais "idosas", mulheres de 30. Elas estão no desespero SIM, lembrando que essas teorias só se aplicam para as mulheres que estão solteiras. Muito deste vem do relógio natural que grita, HELLO, MINHA FILHA CORRE QUE DAQUI A POUCO VOCE NAO CONSEGUE MAIS! Se você reparar bem, os olhos gritam loucura, gritam compromisso sério, você sente o cheiro anormal que exala dessas mulheres e é por isso que fica cada vez mais difícil elas arranjarem o homem que elas tanto querem. E quando conseguem agarrar um, ninguém separa! Já planeja vida junto, viagem, filho no primeiro mês de relacionamento, porque não é a pessoa que importa, e sim os seus desejos. E mesmo que o homem saiba o que está acontecendo ao seu redor, ele acaba cedendo, pela insistência e pela sua conveniência, afinal agora ele tem uma mulher, uma amiga, uma mãe e uma admiradora. Quem não gosta de ser admirado e amado desta maneira? Eu afirmo essa tese pois tenho mais de um exemplo desse perto de mim. Eu me sinto uma antropóloga analisando essa "espécie", fico próxima, tento fazer amizade, descobrir a rotina do dia a dia, só não anoto porque eu ficaria muito exposta!Toda mulher tem fases de neuroses, e elas vão mudando com a idade e a sociedade, eu vejo que nós mulheres de 20, estamos passando por um certo desespero, não é a falta de homem, mas sim a falta de pulso e vontade dos homens de 20 e tantos. Parece que eles tem medo de nós, e é por isso que acabamos ficando com os homens mais velhos, estes que fogem das trintonas, quarentonas, etc! Existe uma razão para as mulheres mais novas ficaram com esses homens, e não fica só na questão dele estar mais estável na vida, é sobre experiência, é sobre ter tesão, coragem de enfrentar essa independência, eles são diretos e falam o que querem. Eles querem absorver essa vivacidade e desprendimento que as outras não tem.
Preciso lembrar que toda regra tem a sua exceção e que você pode ser esta, mas cada vez que repito essas teorias eu acredito cada vez mais!