Google+ O Riso e o Siso: fevereiro 2013

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Ah, a fragmentação humana...!

pensador
Carlos Biaggioli 

Mais uma Quinta de convidados com Carlos Biaggioli. Em breve, plublicaremos seus textos em coluna própria, aos sábados. Acompanhem!

Por Dr. Delfino Anfilófio Petrúcio *
(Palhaço para-guru-filosofático de Quinta Categoria, PhD em Charme, Beleza, Elegância e Gostosura, formado pela Universidade de Modéstia, com pós-especialização em Coisíssima-Nenhuma-e-Algo-Mais)
Ora, por favor, tenham modos!!!!
Meu prestimoso editor quase me mandou para o olho da rua (mas na condição de ramela) por conta tantos e tantos emails desesperados. Não façam isso, desperta a inveja! E vocês sabem muito bem de que matéria-prima a inveja é feita, não sabem? Tudo bem, moscas adoram e também são criaturinhas de Deus... mas isso não vem ao caso!
Como é que vocês pretendiam que meu editor me localizasse nas plagas de Plutão, me digam! Então, contenham-se, queridos e tresloucados fãs, contenham-se... e regozijem-se: estou de volta!
Ir a Plutão e voltar até que foi a parte mais tranquila, viu! O complicado foi chegar em meu consultório e acalmar Dona Bherta. Toda vez que me afasto por um tempo maior do que o habitual, minha secretária (fiel escudeira), resolve – assim mesmo, sem mais nem menos, sem eira nem beira, sem lenço nem documento, sem eva nem adão – TOMAR O MEU LUGAR. Diz que faz isso "pro meu bem, já que os meus pacientes poderiam descobrir minha patética inutilidade e, enfim, tomar o rumo das suas roças", vejam só! E dessa vez não foi diferente...
Faz um tempo que, nas minhas horas vagas, sei lá, até a título de espairecer um pouco, arejar as ideias e mexer os miolos em direções diferentes, eu venho desenvolvendo um pequeno artefato, invento sem maiores pretensões, meramente para entretenimento: o Aparelho Infratômico de Frequência Capsulo-Quântica Longetudinal Esquerdo-Central. Ou seja: uma modesta máquina do Tempo.
Bobagenzinha... no entanto, bem útil para o meu trabalho, viu! Pois, imaginem vocês, por essas e outras, até consegui promover alguns reajustes importantes. Querem um bom exemplo?
Eu trouxe Moisés e aquele Faraó pra dar-lhes um bom puxão de orelha pela sujeirada que, naquele pecapacapá, egípcios e hebreus acabaram deixando debaixo do Mar Vermelho. Onde já se viu? Tudo bem que eles tenham tido, lá, os seus perrengues... mas, cá entre nós, ninguém me tira da cabeça que foi esse desrespeito todo que deixou aquele Mar vermelho de raiva, viu... Ambos argumentaram que as pazes estavam fora de cogitação, pois toda a história do Ocidente teria rumos incalculáveis. Concordei, mas consegui, pelo menos, que, ao retornarem, deixassem pré-organizada uma equipe bilateral de rescaldo daquela bagunça toda.
Pois bem, ao voltar de Plutão, deparei-me com Dona Bherta em estado pré-histérico.
Sei lá como foi que conseguiu – mas também já desisti de compreender isso, em se tratando dessa mulher –, ela estava com ninguém mais, ninguém menos que a própria Eva, em prantos, deitada em meu divã. Confesso que apreciei e, mesmo que sem um diagnóstico mais aprofundado, até compreendi os meandros psicológicos da Serpente... aquela sa-fa-di-nha!
– Mas que diabos está acontecendo aqui, dona Bherta!?
– Ora, doutor. Ainda bem. Estamos com um problema aqui...
– Sim, estou vendo. Pelo jeito, a senhora resolveu mexer de novo na minha máquina do te...
– Isso não é problema nenhum, criatura de Deus! – cortou ela, com as mãos na cintura, atitude que tinha o poder de me calar, pois lembrava-me as surras de mamã. – Ára! O problema é essa coitadinha aí... Tá em maus lençóis!
– Muito prazer, dona Eva, eu sou...
– Que bom que o senhor sabe quem o senhor é! – e caiu num choro convulsivo, amparada por dona Bherta, que, constrangida, tentava ajeitar sem sucesso a folhinha de parreira na... na... bem, ali.
– É a consciência, doutor! A bendita da maldita consciência... Ô, parto difícil, esse! – comentou a secretária, visivelmente comovida.
– Mas qual, afinal de contas, é o problema da senhora? Culpa?
Nesse momento, constatei que, em boca fechada, não entra mosquito. Ambas desferiram a queima-roupa, bem no meu terceiro-olho, uma expressão da mais alta indignação que já pude testemunhar nessa minha agraciada vida. Percebi que tinha perdido outra boa oportunidade de não dizer algo que, de fato, não deveria ter dito...
– Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh, tá!!! Ah, tá, sim, senhor! Machista, porco chovinista! – gente! A quantas décadas não ouvia esse termo?! Deu até saudade... as passeatas feministas... a revolução... enfim. Foco! – Cansei, doutor. Quem comeu a maçã não foi eu, foi o Dan! Ok?! Combinado?!
– Sim, sim, mas...
– Nem mas nem meio-mas, meu querido! – bradou ela, levantando-se (e fazendo despencar glamourosamente a folha de parreira!) com o dedo em riste na direção do meu sacro-nariz-vermelho – Foi EU quem mordeu a maçã? ALGUÉM, por acaso, apresentou uma provinha que fosse, a menor, a mais pífia (mulheres que falam bem o idioma! Ahhhh...), de que tenha sido EU a articuladora junto à Serpente. Aliás, ela bem que poderia estar aqui, viu... Que eu tenho poucas-e-boas pra dizer praquela dis-si-mu-la-da! E muito mais, fique sabendo, muito mais pra dizer praquele Ba-na-na!
– Isso, amiga! Solta a franga e liberta a periquita!
– DONA BHERTA!!!!
– Chega de opressão, doutor! E fique o senhor sabendo que, a partir de hoje, não sou mais sua secretária...
– Mas...
– Sou sua colega de trabalho! Co-gurua!
– Conversamos sobre isso mais tarde. Dona Eva, a máquina não pode mantê-la por muito tempo em nosso tempo. Então, pode me dizer qual é o seu problema, por favor?
– Sim! Que história é essa de “eu ser a costela” do Dan?
– Tem razão, amiga! – atalhou minha colega de trabalho – É assim que os homens nos veem: fragmentadas! Por partes... feito o Jack, o Estripador!
– Quem?! – perguntou a Primeira Dama, aturdida.
– Isso não importa, agora. Escute bem, dona Eva, eu quero deixar claro que...
– Quem vai deixar claro aqui sou eu. E é agora!
– Vai, amiga. Arrasa!
– Olha bem pra isso tudo aqui, doutor... e me diz: tenho cara de costela?
Infelizmente, a máquina levou-a de volta, para o Eden. Menos mal, não é? Já pensaram como o mundo estaria hoje se ela tivesse levado a minha resposta
* Dr. Delfino é o alter-ego de Carlos Biaggioli (biaggiolic@yahoo.com.br)

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Sobre Lobos e dentistas...

Tortura
Depois de muito tempo adiando, o fora-da-lei marcou aquele tratamento com a dentista. Não que ele estivesse com medo... Na verdade, estava apavorado. Só de imaginar o barulhinho daquele motorzinho na boca já se contorcia e suava frio.
O companheiro mandou criar coragem e enfrentar o problema. "É só uma limpeza, nem obturação, nem nada!"
- Como assim "SÓ uma limpeza?". É a visita, o ritual, a luva de látex, a cadeira de dentista, a luz na sua cara. Tudo conspira para o terror.
O problema é que até o poodle da vizinha já havia feito limpeza nos dentes e andava encarando-o com aquele ar de superioridade. Como se fosse mais homem que ele. Um poodle! Que passava por ele de peito estufado se sentindo um pitbull. Não! Isso era demais para um selvagem da motocicleta!
Vestiu o colete de couro, a bota, anéis de caveira e foi ao consultório provar a todos que era durão!
Medo de dentista
Medo de dentista
Logo na entrada a perna esquerda tentou voltar pra trás e a direita bambeou. O batente da porta o segurou. Sentou, recobrou as forças, tomou um gole de água sem que ninguém percebesse sua palidez e o pavor tremendo no lábio inferior.
Finalmente sentou-se na temida cadeira de tortura e, enquanto a dentista prosseguia, ele gemia, fazia caretas, suava, contorcia os dedos do pé e, nas horas vagas, tentava disfarçar.
Quando o tratamento acabou ele confessou:
-Devo ser o paciente mais covarde, trinta e poucos anos nas costas e...
-Não, na verdade você é um dos mais corajosos. A maioria chora..
-Ah, não brinca, você só tá tentando fazer eu me sentir melhor...
-Não. É sério, nem precisei te subornar para não chorar!
"Essa mulher é ótima para motivação!" Pensou ele, inflando o peito de masculinidade.
Na porta estava a placa "Odontopediatria".

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Ciladas do Gênio da Lâmpada


Por Dr. Delfino Anfilófio Petrúcio *
Palhaço pára-guru filosofático de Quinta Categoria
PhD em Charme, Beleza, Elegância e Gostosura
Formado na Universidade de Modéstia
com pós-especialização em Coisíssima Nenhuma e Algo Mais

Meus queridos e insistentes leitores, aviso aos navegantes: cuidado com seus rompantes, viu! Muita cautela aos incautos.
A todos os mais de 1.872.438 emails, cartas, pombos-correios, flechas e sinais de fumaça que o nobre e abilolado editor deste espaço bem poderia ter recebido por resposta ao artigo que neste prestimoso espaço publiquei na semana anterior, eu afirmo: muita, muita precaução com o que pensa, com o que deseja e principalmente com aquilo que protesta!
Lembram-se da minha indignação, não é? Mais do que indignação propriamente dita, o que me pegou na fibra do nervo ótico foi esse preconceito que sofre a maioria de nós, pobres terráqueos, que passamos vidas inteiras na esperança vã de sermos abduzidos, alçados a outras realidades de vida! O que é o Triangulo das Bermudas, as chapadas dos Veadeiros ou dos Guimarães têm que Parelheiros não tem? Que privilégios são esses, não é? Protestei mesmo!!! Comigo não tem dois-migo! Quando eu não tô bom eu fico pior ainda...
E aí é que deu no que deu...
Um dos meus pacientes surtou e resolveu trocar uma bela mansarda ao redor do Palácio da Alvorada por alguns meses no Baixo Glicério, em São Paulo. E lá fui eu ouvi-lo debaixo do Elevado, justo em dia de chuvaréu de verão. Digo "justo em dia de chuvaréu" simplesmente porque o dito-cujo entrou numas de "atender a um chamado" e seguir o rumo das águas bueiro abaixo... Então, lá fomos nós de galeria em galeria, surfando na fúria das ondas pluviais... No caminho ele se engraçou com uma capivara perdida e... bem, em nome da ética devo resguardar a intimidade amorosa de meus pacientes, espero que me compreendam, claro.
No entanto, até justamente por conta dessa discrição, eu segui meu rumo, acocorado sobre um grande pedaço de outdoor que, vai lá saber como, estava ali, abandonado naqueles bueiros imensos. Em poucos minutos, lá estava eu, sei lá como realizando um "tubo" perfeito e indo atracar minha inóspita embarcação à margem de um grande lago de águas suspeitas, onde me acomodei para planejar o meu retorno à civilização.
Foi neste momento que tudo aconteceu. Um clarão e VUPT!, virei salsicha de parafuso e, quando me dei por mim, percebi, por um vão qualquer de material transparente, que estava sendo alçado a uma altura inconcebível. Não demorou quase nada e eu percebi que não estava diante de um televisor assistindo a uma reexibição de "2001 Uma Odisseia no Espaço"... EU HAVIA SIDO ABDUZIDO!!!!
Uma coisa é querer! Outra coisa é administrar o desejo realizado! A primeira coisa que me veio à mente foi: "O tal Gênio da Lâmpada deve ter se divertido às pampas com as caras dos seus agraciados"... Eu pelo menos sempre morri de rir desses viralatas que perseguem os pneus e ficam com fuças de abobalhados com os pneus fazem sua vontade e param. Era o meu estado de espírito!
Meu relógio chiquetérrimo de bolso parou, então não sei dizer quanto tempo levou até a tal espaçonave ou o que quer que aquilo fosse pousasse num lugar bem esquisito, que, peço perdão, não vou conseguir reproduzir fielmente para vocês, aqui. Mas, resumidamente falando, lembrava um queijo suíço com fisionomia de samambaia com alzaimer, mais ou menos assim. E surgiu um... um... um cidadão?!, algo assim na minha frente que começou a emitir uns sons choramingantes para mim, que, vai saber como, eu conseguia compreender...
-- Bem-vindo, doutor Delfino! Obrigado por aceitar nosso convite.
-- Eu aceitei? Desde quando?
-- Desde que acatou a ação do nosso líder em seu planeta...
-- Líder?
-- Sim, senhor. A capivara naquela galeria subterrânea...
-- Mas, mas... o meu paciente, ele...
-- Estão trocando juras de amor, fique tranquilo. Nosso planeta precisa muito da sua ajuda, doutor... 
-- Minha ajuda? Mas... como eu posso ajudar?
-- Por favor, vista isso e nos acompanhe...
-- Ah, sim, oxigênio, não é?
-- Na verdade, temos que nos proteger contra sua poluição mental... Espero que não nos leve a mal... Vamos?

Foi um tempo incomensurável o que passei em Plutão. Um povo tremendamente hospitaleiro mas imensamente deprimido com o rebaixamento, desde que sua vivenda deixou de estar no ról de "planetas" do nosso Sistema Solar. Fui obrigado a lançar mão de todo, absolutamente todo meu cabedal e aplicar terapias das mais variadas vertentes, de Freud a Lair Ribeiro, de Zíbia a Paulo Coelho e a eletrorrisochoques!!! Hordas imensas se reuniram em vãos imensos de acústica exemplar e inominável para me ouvir falar de temas como auto-estima, auto-ajuda e auto-cócegas - técnica muito eficáz que me inspiraram certas correntes orientais do nosso planeta...
O difícil não foi atravessar (de forma o mais eficiente possível) todas essas surpresas e vicissitudes... Não. O problema foi aquela plutoniana... porque, me desculpem, mas que terráqueo... ou melhor ainda, que terráqueo brasileiro... ou mais precisamente falando, que terráqueo brasileiro criado no Bixiga resiste a um forte abraço de uma fêmea com seios nas costas e nádegas nas frentes?
Oh, ciladas!!!!
* Dr. Delfino Anfilófio Petrúcio é o alter-ego de Carlos Biaggioli (biaggiolic@yahoo.com.br)

Esse texto é uma continuação, clique aqui para ler o antorior!

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Marcio

Mais um post triste! Mais perdas nesse começo de ano. Tantas perdas nos últimos tempos. Mas, sinto, que  talvez qualquer perda seja excessiva em qualquer prazo. Uma vida inteira leva para digerirmos algumas perdas.
Eu quis escrever algo engraçado, como é o escopo desse blog. Apesar de contemplarmos o Siso logo de cara! Eu tentei. Obviamente não consegui. 
Gostaria de ter na ponta da língua para falar bonito como tantos textos que li, em homenagem ao amigo que se foi. Não sei se consigo. Não sei se é possível. Parece que qualquer tentativa seria tola e injusta. Injusta pois nem 32 mil linhas resumirão seus 32 anos. Nem talvez contemplem os aspectos que ele gostaria em uma homenagem.
Aliás, sempre quis mandar às favas qualquer homenagem póstuma. Nunca me fez muito sentido homenagear uma pessoa que nunca saberá da homenagem. Demonstrar aos outros todo o valor que essa pessoa teve, enquanto ela, talvez, vivesse sem o saber.
Acontece que esse é meu segundo amigo (que possa chamar de amigo) a falecer, e o mesmo sentimento me martela: que arrependimento da distância tomada nos últimos tempos - as conversas de facebook não nos aproxima, apenas comprovam o distanciamento entre as pessoas - e quanto arrependimento de não ter dito o quanto essa pessoa importava para nós!
É mais ou menos assim:
Cada vez que entrava no blog, eu via sua pequena foto no quadrinho de assinantes, como se me olhasse e dissesse "vê lá o que vai escrever, hein!? Nada de repetir os preconceitos e opressões do dia-a-dia" e a cada nova postagem o pensamento "o que será que ele dirá sobre isso?". Porque uma coisa eu tenho que dizer, o cara era INTELIGENTE. Como poucos que eu já conheci, SE eu já conheci! E eu, que não tenho os mesmos dons, ficava inseguro em escorregar nas palavras. Ele tinha a capacidade de sempre apontar um ponto de vista diferente, e tão diferente, e tão interessante, que me fazia duvidar do que eu já aprendi. E essa inteligência lhe dava não só o dom crítico, mas também a generosidade de reconhecer em você as coisas boas que  você nunca havia percebido. A generosidade de concordar com você no que seria seu erro. A generosidade de errar também, pra mostrar que você não está sozinho e dizer que todo mundo faz cagada, e que a sua cagada te faz único em suas experiências, e isso te valoriza. Creio que estou sendo óbvio para quem o conhecia.
Desnecessário dizer que sempre aguardei seus comentários sobre meus medíocres contos desse blog, e que me frustrava mais não recebê-los do que levar um xingo. Desnecessário, também, dizer o quanto sentirei sua falta e o quanto desejo que sua foto jamais se apague ali no canto esquerdo do meu blog. Pois, acho que sempre levarei comigo as lembranças de nossas conversas e os conselhos dados nos bancos dos jardins de Marília...
E, infelizmente, sinto que estou sendo injusto ao escrever...

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Sobre Lobos e Mães...

beijos de mãe
Ele estava abatido. Havia dias, andava sem rumo, largado, esquecido das responsabilidades... Ahhh a quem eu tô querendo enganar? A vida inteira ele foi assim! Mas, dessa vez, estava cabisbaixo. Era broxa ou não? O que estava acontecendo? Será que mudou de time?
A cada bar, uma dose de Campari. Mas já não tinha o mesmo gosto:
-Amigo, me vê uma dose de Campari? Aquele do líquido vermelho...
-Eu sei o que é um Campari...
No balcão, a dose nem esperava, era engolida de pronto. E sempre terminava assim:
-Sabe o que é Campari? Sabe? Então por que me serviu essa porcaria sem gosto?
E continuava, até ser expulso. Expulso de cada bar, era mal-visto, mal-falado, mal-quisto...
O desespero, a incerteza da masculinidade não sumiam. E tentou de tudo: "Me dá uma jurubeba! Me dá um Fernet! Desce uma Salina! Me dá um Dreher! Me dá um Corote! Me dá um beijo!"
-Hã? Como é que é? Porra, sai daqui! Você tá louco, cara?
Realmente, a mistura não fez bem! O cara cometeu um deslize. No bar não se cospe no chão... nem se pede beijo pro dono do boteco! Ainda mais se o cara é feio, fedido e mal encarado!
Apanhou de cabo de vassoura... Foi posto na rua.
Seu fiel escudeiro o encontrou e levou para casa. Na casa do amigo tentou agarrar a mãe dele! Fez biquinho, pediu beijinho, fungou no cangote da velha e grudou na cintura dela pra fazer um chá-chá-chá. Um pavor!
Foi posto pra dormir no quintal.
No dia seguinte, a cabeça pesada, o pedido de desculpas:
-Cara, foi mal. Mandei muito mal. Misturei várias coisas, não caíram bem. Tô todo roxo de pancada e ainda por cima tentei agarrar sua mãe! O que é isso?
-Pois é...
-Baixou o santo em mim...
-A pomba gira...
-Uma senhora, viúva, quase setenta anos nas costas... Isso não se faz... Até os foras-da-lei têm um código de conduta e eu ultrapassei todos os limites! Me desculpa mesmo!
-Você tá no cio...
-Não só pela idade da velha, mas... Cio? Você disse cio? Cio não é coisa de fêmea? Pô, bicho, não fala isso, não tô bem! Mas ela é sua mãe... entendo se tu e tua família não me quiserem mais por perto... Nunca mais vocês precisam olhar na minha cara! Não consigo nem te encarar de tanta vergonha...
-Pois é...
-Acho que sua mãe não quer me ver nem pintado de ouro...
-Então, na verdade ela acordou com sorriso de orelha a orelha e quer que você jante com a gente... Disse que você pode passar a semana toda aqui!

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Bullying Intersideral é Crime!


Autor- Convidado
Carlos Biaggioli
Continuando com quintas de convidados, esse texto é de Carlos Biaggioli, colega recém-adquirido por contatos mediatos virtuais, palhaço profissional, ano passado comemorou 30 anos de estrada, e tem duas paixões: humor e  escrita. Neste ano lançará um livro...


BULLYING INTERSIDERAL É CRIME!

Por Dr. Delfino Anfilófio Petrúcio*
(PhD em Charme, Beleza, Elegância e Gostosura, formado pela Universidade de Modéstia com especialização em Coisíssima-Nenhuma e também em Algo-Mais. É páraguru-filosofático graduado na Quinta Categoria)

Como todos sabem (quem não sabe é porque faz parte da imensa minoria), em meu consultório eu atendo sigilosamente pessoas tão célebres quanto anônimas... Um dos meus pacientes, anônimo também, convidou-me a escrever para este imaculado blogue internético e virtual, ao que prontamente aceitei, gratificado e definitivamente convencido de que, neste mundo, há loucos para tudo mesmo.

Normalmente eu utilizaria um espaço disputadíssimo como esse para responder às dezenas de milhares de centenas de dezenas de meia-dúzia-de-três-ou-quatro emails que me chegam, com questões existenciais, ideológicas, sexuais, políticas, filosóficas e até baboseiras da mais nobre estirpe. Porém, hoje não. Preciso desabafar! Afinal de contas, "palhaço não é de aço" (a frase é boba, a rima é fácil, mas causa impacto).

Olha, vou falar, viu! Quer dizer, nem sei se devo falar... Vai que alguém se mete a rir?! Não que eu ligue pra isso, eu não. Nem te ligo. Já faz tempo que aprendi: esse povo ri em "legítima defesa", isso sim! Meu bisavô me contou isso, antes de morrer de rir. Sim, bateu-com-as-caçuletas de tanto fazer cócegas em si mesmo. Até hoje penso: "será que foi suicídio?". Bem, não quero entrar nessa questão, pois cada um é cada um, não é? É, pois é... Mas ele me contou que o bisavô dele, bisneto de um conceituado de um dos maiores e mais desconhecidos Bobos da história, segredou-lhe ao pé do ouvido:

- Bobo não é bobo. Bobo é quem se mete à besta de querer fazer papel de Bobo.

Como sou Bobo e, por isso, de bobo eu não tenho nada, vou desabafar a minha indignação:

- POR QUE DIABOS EU NUNCA FUI ABDUZIDO?!

Bando de preconceituosos! Povo elitista, sectário! Diz pra mim, diz: o que é que aquele bando de gente, de avião, de navio, até submarino do Triângulo das Bermudas tem que eu não tenho? É porque eu nasci terráqueo, não é? É porque eu não uso nem dez por cento da minha cabeça-animal, não é? Só porque meu povo ainda acredita em fronteiras, ainda pensa que existe o "lado de fora", não é? Bando de sectários, é o que vocês são! Custava me levar pra passear um pouco, espairecer e renovar as ideias, custava? Acham que eu não sirvo pra nada, é?

Eu sei de muita coisa dessa Terra, sou um arquivo-vivo! Vi coisas simplesmente inacreditáveis em qualquer parte do Universo! Muito mais inacreditável que a construção das Pirâmides no Egito... Muito mais abestalhantes do que os totens da Ilha de Páscoa ou os rostos do Monte Rushmore, em Dakota do Sul... Muito mais eletrizante do que a explosão do Grimsvotn, o vulcão islandês... Isso é bobagem, é ninharia perto do que eu realmente presenciei, testemunhei e dou fé: o campeonato mundial do centenário e glorioso Timão! Danem-se vocês, E.T.s presunçosos que me esqueceram aqui...

Isso é bulling intersideral, meus camaradas! Pois, eu lhes digo uma verdade, e nem adianta fazer biquinho-de-melindre: AZAR O DE VOCÊS! Nem te ligo...

* Alter-ego de Carlos Biaggioli (biaggiolic@yahoo.com.br)

Clique aqui para a continuação dessa história!

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Briga de cachorro grande

Segurança para os condôminos
Cuidado para não furar a lataria!
Na reunião de condomínio, duas empresas se apresentaram para fecharem contratos de segurança. A galera lotava o salão em busca de notícias sobre o Minha Casa Minha Vida que usaram no empreendimento. 
O dono da primeira empresa se apresentou como Capitão da PM, com trinta anos de serviço, de bom porte, peito aberto, distinto e muito orgulho de seu posto. Dizia que, por ser polícial, o serviço de segurança do condomínio seria melhor desempenhado, mais segurança, mais felicidade para os condôminos, aleluia. A platéia estava boquiaberta, pensando na janta - pois foi nesse horário que se marcou a reunião - e tentava demonstrar respeito e satisfação por tão nobre presença. Era caso quase certo de que este levaria o contrato. Muitos ali alegraram-se por rememorarem momentos de prazer e sensibilidade militar durante a década de 80.
Na apresentação da segunda empresa, surgiu um senhor magro, meio torto, "caquético" comentaram alguns, cabelos pintados com tons avermelhados, muitos sentiram dó. O que um senhor daqueles poderia oferecer em matéria de segurança? Talvez mal enxergasse um trombadinha pulando o muro! Foi quando sua carteirada exigiu um maior reverenciamento: Era Major reformado da PM.
Ouviu-se um "Oohhhh".
Todos se olharam. Afinal de contas quem manda mais? Major ou Capitão? O que quer dizer reformado? Será que ele ganhou esse título depois que fez plástica e pintou o cabelo?
Pela cara do primeiro e sua exitação entre fazer cumprimento ou bater continência, o Major reformado levava a melhor. Estava claro para a maioria. O contrato mudou de mãos. E logo todos regozijaram-se, e os mais velhos puderam dar três vivas e rememorarem momentos de respeito e dignidade vividos durante a década de 70. Outros comentaram sobre a postura viril do jovem senhor, parabenizaram-no sua hombridade, saúde e compleição física.
Acontece que o Capitão realmente estava disposto a levar esse contrato e propôs apresentarem seus planos de segurança para o condomínio para escolherem o melhor.
-Certo! Minha empresa, como a sua, possui vigilância armada e motorizada, vinte e quatro horas por dia e, além disso, possuímos um sistema de sensores que detecta o carro do condômino, abrindo o portão automaticamente.
-Claro, mas isso pode gerar uma falha na segurança se não for bem vigiado. Minha empresa tem um sistema de reconhecimento facial, quando o condômino estiver no carro ele abrirá...
-Tudo bem, mas minha empresa tem um sistema que se o condômino estiver acompanhado, o que pode ser caso de sequestro, ele terá que acionar um botão para abrir o portão e, automaticamente o rosto do acompanhante é detectado e gravado.
-Sim, mas a minha empresa possui um sistema de botão de pânico, que é um alerta, para o caso de o motorista estar sofrendo sequestro. Logo uma equipe armada será acionada e cercará o veículo para impedir a fuga.
-Mas na minha empresa, a equipe que cercará o carro é uma equipe especializada, treinada pelo BOPE.
-E na minha é a SWAT!
-A minha tem granada!
-A minha tem lança morteiros...
-A minha tem minas terrestres!
-A minha tem mira laser, capaz de atirar duzentas balas por minuto sem danificar o carro dos condôminos!
Até que alguém interveio:
-Bom, senhores, eu, como síndico do condomínio, agradeço sua presença, mas nosso orçamento é bem mais modesto que isso, só queríamos interfones e portão elétrico para pedestres, já que a maioria aqui nem carro tem!