Google+ O Riso e o Siso: Experiências Highlander no SUS

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Experiências Highlander no SUS

Duas semanas doente, uma semana no hospital. Não consigo mais escrever. Acho que perdi a graça. "Eu vi coisas, eu fiz coisas. Eu experimentei sangue humano e o gosto é bom!".
A inocência foi perdida.

Você liga para o SAMU, chama a ambulância e quarenta minutos depois ela ainda não veio. O SAMU é para emergências! Você liga e reclama "pô, liguei chamando a ambulância há quarenta minutos e ainda nada", "o paciente ainda está respirando?", "sim", "então não era emergência, bota ele num taxi e manda pro hospital".
Já não faz sentido. É ácido lisérgico o SUS.

A atendente te pergunta: "o que você tem, senhor?", "bom, lindinha, se eu soubesse não tava aqui, tava num consultório", "Mas o que você está sentindo?", "nesse momento, ódio".
Nem hospital particular está salvando mais. Pelamordedeus, manda um cubano lá pra casa!

Após um dia inteiro de febre, sentado numa cadeira desconfortável, o braço cheio de furos e sem almoço, acho que posso integrar as forças de paz da ONU. Sou o próprio Highlander. Sair vivo dessa nem o Rambo. Só o Chuck Norris, que não é humano. Highlander tinha uma espada, né? Tô tão debilitado que só posso carregar um estilete. Ou um alicatinho de cutícula. "Vou combater o mal com meu alicatinho de cutícula". Isso é coisa de herói socialite. Formar uma liga da justiça com a Narcisa e a Val Marchiori. A Narcisa joga ovo enquanto a Val xinga o vilão de pobre cafona.

Só fui encaminhado para um leito depois da novela das 8. Acho que estavam esperando acabar para dar entrada nos meus papéis. Do médico não havia nem sinal, e eu já havia sido diagnosticado e receitado por cinco pacientes e três acompanhantes.

Quando, finalmente, me deitaram numa maca, ao lado de outras duzentas e trinta e sete macas, cada uma com um enfermo gemendo, ao meu lado um jovem de uns noventa e sete anos se esticava, virava, gemia, resmungava. A noite seria longa. Percebi uma luz forte se aproximando, abrindo passagem pelo teto. Ela vinha serena, aquecia e enchia a gente de paz. Uma voz grave, firme e bondosa soou: "Américo? Américo Neto? É você?" Era, mas ele não se identificou. Hoje em dia não dá para confiar em qualquer voz que se ouve por aí. Tá assim de caso de gente que é enganada porque ganhou no Baú, porque ganhou um carro, porque um parente foi sequestrado. Prontamente apontei para o senhorzinho deitado na maca ao lado. "Chegou sua hora, vamos". Tive a impressão de vê-lo flutuar em direção à luz, mas acho que não, ele pegou num sono tão gostoso, tranquilo, nem se mexia.

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