Google+ O Riso e o Siso: O grande mágico de domingo

terça-feira, 4 de setembro de 2012

O grande mágico de domingo

Era um show ao vivo, desses que tomam a tarde de domingo, e anunciavam a atração internacional: um tal mágico, com direito à trilha sonora de entrada, roupas estilizadas e intérprete.
-Oloco meu! Olha quem tá vindo aí! É o fera da mágica, direto dos Estados Unidos! O rei da enrascada! Ôrra meu!
A vibração da platéia contagiava, ele entrou no palco acelerado, talvez em pó, e a galera em casa se aglomerou na frente da tela. O pensamento era alto, uníssono: O que será que ele vai fazer? Vai serrar o apresentador no meio? Tomara! Vai serrar uma dançarina? Não, coitada! Vai fazer esse tédio dominical desaparecer pra sempre? O que será? O que será? Hein? Hein?
Mas havia algo realmente estranho naquela atração. Fora o aspecto junkie do mágico - coisa que pode ser muito comum na profissão, embora não esteja mais em alta -, fora o fato de ser um programa sem graça de domingo - coisa que também pode ser comum na profissão, embora não esteja mais em alta - e fora o ar de atração caseira que se apresenta aos familiares nos dias festivos de reunião - coisa que também pode ser comum na profissão, embora não esteja mais em alta -; era uma atração daquelas que se realiza uma tarefa num espaço de tempo muito curto (você tem trinta segundos para descobrir o nome!).
Como assim? Perguntariam os mais céticos. O cara tem que entrar no palco, mostrar as roupas estilizadas, provar pra todos que é estrangeiro e que é mágico em trinta segundos? Isso só já é uma mágica!
Bom, mas o fato é que ele foi arregassar as mangas, mas preferiu, infelizmente, tirar a jaqueta (daqueles agasalhos de treino, tipo adidas, toda detalhada com estampas de labaredas rodeando o corpo, fazendo conjunto com a calça). Digo infelizmente porque a compleição física da atração não era nada atrativa. Era um corpo de tiozinho, braços flácidos, enrugados e branquelos, uma bela protuberância onde deveria ser o abdômen, bem delineados pela camiseta regata justa que vestia.
Com esse visual digno de pena, foi anunciado o grande número, mas nesse ponto o êxtase no sofá de casa era tão grande que a balbúrdia da galera não me deixou ouvir. Consegui deduzir que ele seria amarrado a uma camisa de força e içado pelos pés a uma altura de uns 5 ou 6 metros. Mas o objetivo de tudo isso não ficou muito claro.
A camisa de força foi presa, uma tira de couro fechava por entre as pernas, saindo da barriga e terminando nas costas. Uma tornozeleira prendeu seus pés e ele foi erguido. Quando o relógio começou a contar, com um simples chacoalhão removeu todo o aparato de seu torso! Isso foi realmente acintoso: aquele couro todo, preso, simplesmente se soltou? Mas o fato é que ainda restavam uns vinte e cinco segundos e o grande mágico passou a se ocupar de sua tornozeleira. Em cerca de cinco segundos ele soltou um pé e já nos deparamos com outra questão: e agora, se ele soltar o outro pé, cairá daquela altura? Passaram dez segundos, onze, doze, a tensão crescia, o mágico se debatia pendurado por um pé só, quando, talvez, o responsável pelo guindaste por um ato de pena, ou prudência, começou a descer o cabo. Mas o mágico não desistia! Quando suas costas tocaram o chão, a campainha anunciou o fim dos trinta segundos, mas o mágico perseverou! mesmo deitado no chão, com o tempo estourado, ele se debatia em convulsão, talvez uma minhoca, tentando se desvencilhar da tornozeleira e, quando conseguiu, com a ajuda de um auxiliar de palco, levantou comemorando, vitorioso! Correu para o lado contrário das câmeras...
Nessa hora, uma mistura de gozo, estupefação e vergonha alheia invadiu a platéia em frente à televisão. Desconfio que sua mágica maior tenha sido essa: num só golpe fez sumir o tédio e o bom senso do programa.

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