Google+ O Riso e o Siso: Hay que perder la piada pero la graça, Jamas!

sábado, 6 de abril de 2013

Hay que perder la piada pero la graça, Jamas!


Por Dr. Delfino Anfilófio Petrúcio*
(PhD em Charme, Beleza, Elegância e Gostosura. Formado pela Universidade de Modéstia com pós-doutorado em Coisíssima-Nenhuma-e-Algo-Mais)
A pior coisa que pode acontecer a uma criatura é: ser o errado no lugar errado e na hora errada. Isso é pr... ops, perdão. Isso é afrodescendente no branco! Há, no entanto, um lado que pode-se ter como positivo nisso: não é nada pouco conquistar a medalha de ouro no pódium do "Cúmulo da Coincidência".
Explico...
Já imaginaram, por exemplo, quão difícil é, num jogo de futebol, você acertar a bola no bico da quina da trave do goleiro? Vai lá! Sai de casa de manhã, dá um beijo na patroa e promete: "Fica tranquila, querida, hoje vou conseguir ser fulminado por um raio...", vai lá e depois volta (numa mesa branca) pra me contar como foi. Agora inveje a honra de caminhar por aí, assobiando tranquilamente "La Vie en Rose", e puf! Ganhar um boeing 747 bem no cucuruto... já pensou? E, ainda de quebra, como um bônus, sair de cena evaporado, sem deixar vestígio, como num passe de mágica de fazer beicinho chorão no próprio David Cooperfeld!
É um ponto de vista (ou uma vista do ponto) que pouca gente percebe, não acham? Pois bem, se isso, por si só, já não bastasse, imaginem agora o que é ser alguém que TESTEMUNHA a pessoa que, por tamanho merecimento próprio, consegue estar no lugar errado e na hora errada...
Não vou embarcar numas de falsa modéstia, fiquem absolutamente tranquilos, porque essa não é a minha praia. Mesmo porque não tenho praia. Sou, aliás, inteiramente avesso a quem cultiva esse tipo de ilusão: o de que TEM um pedaço de planeta... Sou lúcido! Seria o mesmo que crer que o cão É da pulga, ora pitombas... Mas vamos adiante.
Isso aconteceu naquela quarta-feira à tarde, para um passeio na ilha central da Grande Avenida. Havia acabado de atender em meu divã a treloucada viúva de Pipoquinha da Silva, o palhaço amigo meu que foi encontrado morto diante do seu espelho, depois de uma overdose de cócegas...
Já que suicídio é pano-pra-mais-de-manga, assim que Dona Bherta agendou essa consulta (um dos seus milhares de "encaixes" caridosos), diante da experiência que carrego nesses anos intensos de guru parafilosofático de quinta categoria, grau conquistado às custas de muitos pontapés-na-bunda, tropicões e tabefes nas rosadas faces, tratei de me armar de estratégias mil: risoterapia de choque! Eletrocócegas! Transfusão de ânimo! Extração de caraminholas! Respiração riso-a-riso! Injeção intragargalhandular! Até exame de toque no suvaco me preparei para aplicar na pobre viúva... A preocupação da mulher, no entanto, era diametralmente oposta:
– Doutor, tomei uma decisão.
Todos os meus sentidos se aguçaram, neste momento, ciente e cioso que sou que absolutamente ninguém, veja bem: NINGUÉM tem condição de tomar decisão, uma vez que decisão não é bebida e, assim sendo, não se pode acondicioná-la em taça alguma. Levantei a sobrancelha direita e apurei o tímpano esquerdo para receber o que vinha:
– Eu não quero mais ser eu.
Lá de sua mesa em cerejeira cor-de-âmbar Dona Bherta, minha secretária, tossiu seco, levando-me a cogitar fortemente a possibilidade (mesmo que remota) de aquela velhota ser, além de rabugenta, também indiscreta.
– Veja bem, dona Queijadinha da Silva... Eu compreendo perfeitamente seu estado de choque e...
– Olhe bem para a minha cara, doutor – desferiu ela, objetivamente. – Eu tenho cara de tomada elétrica pra estar em estado de choque, tenho?
– Não, não, mas...
– Não confunda fiofó com bunda, por favor!
– Não confundirei...
– Meu marido dançou na curva, simples assim.
– Que o Grande Narigudo, lá nas alturas, tenha miseric...
– Bobagem! Perdeu o fio da meada... Olhou pro espelho e não viu ali graça nenhuma... Aí apelou e exagerou. Saiu de cena. Fim.
– ...
– A gente, que é palhaço, conhece muito bem a regra, não tem quem não conheça. No máximo, o que muitos de nós tenta fazer é fingir o melhor possível que desconhece a dita-cuja, mas ela é clara: HAY QUE PERDER LA PIADA PERO LA GRAÇA, JAMAS!
– !
– O senhor pode me ajudar a resolver meu darama melotrágico-patético-existencial, doutor?
– Bem, eu... Veja bem, dona Queijadinha... Falando filosófica e antropologicamente, eu creio... Eu penso que... Veja bem... Então...
– Doutor Delfino, anote aí, por favor. Se for difícil, eu desenho.
– Ah, sim, pois não.
– Eu não quero mais ser eu.
– Não quer...
– Não. E não quero também palpite, a não ser que o palpiteiro entre aqui dentro de mim e olhe com olhos bem arregalados a dor e a delícia de ser o que eu sou...
– Já ouvi isso em algum lugar...
– Rede social, provavelmente.
– Deve ter sido. Prossiga, por obséquio...
– Só eu sei amar o que eu amo, querer o que eu quero, sentir o que eu sinto e pensar o que eu penso!
– É bem provável, sim...
– Pois então, doutor! É demais, chega disso! Eu olho pra mim e é como se eu me visse sendo a pessoa errada, no lugar errado e na hora errada, dá pra imaginar isso? Eu não quero mais brincar disso: cansei de ser Augusta, eu me demito!
Devo reconhecer que dona Bherta foi simplesmente genial! Sem mais nem menos, sem eira-nem-beira do toca-K7 explodiu no ambiente a voz maviosa de Cauby Peixoto entoando a plenos pulmões:
– Quem sou eu pra ter direitos exclusivos sobre ela, se eu não posso sustentar os sonhos dela, se nada tenho e cada um vale o que teeeeeeeeeeeeemmm...?
Assim que a viúva se retirou, mandei cancelar todos os agendamentos do dia (inclusive a consulta agendada por Bento XVI) e fui passear na ilha central da Grande Avenida, para soltar umas boas baforadas no meu cachimbo de bolhas de sabão e jamais, jamais esquecer de quem eu sou...
* Delfino Anfilófio Petrúcio é o alter-ego do escritor CARLOS BIAGGIOLI (biaggiolic@yahoo.com.br)

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