Google+ O Riso e o Siso: O Charnel De Dona Bherta É De Bofofó!

sábado, 27 de abril de 2013

O Charnel De Dona Bherta É De Bofofó!


Por Dr. Delfino Anfilófio Petrúcio*
Palhaço, pára-guru filosofático de Quinta Categoria, PhD em Charme, Beleza, Elegância e Gostosura, formado pela Universidade de Modéstia, com pós-graduação em Coisíssima-Nenhuma-e-Algo-Mais

Eu já estava a quase meia-hora aguardando e nada da atendente. Maldita hora que resolvi usar a internet para comprar aquelas três peças da minha máquina do Tempo, que ideia! E justamente agora que estava tudo tão bem encaminhado para o armistício entre Caim e Abel... que diacho! Porque vou falar uma coisa a sério, viu: ô troço difícil de destrinchar, essa história de ciúme e inveja, afff! Só aceitei o caso por causa de dona Bherta...
– Ah, doutor, não custa nada, vai!
– Mas, dona Bherta, não é que eu não queira, não se trata disso. Mas temos uma fila, não temos? Me diga: como está o agendamento da terapia de casal de Cleópatra?
– Ah, doutor, aquilo é caroço de angu, viu.
– Como assim?
– Ah, aquele um, o seu Marco Antonio, é um sabonetão. Coitada da dona Cléo. Nem te conto. Mulhereeeeeeeengo, o traste! Não satisfeito com a renca de filho que tirou da dona Fadia, ainda fez a festa com a dona Antonia Híbridra, olha só que nome besta, doutor!
– Dona Bherta, nós temos um compromisso ético de jamais...
– Ára, bobagem! Seo Marcantonho não parou aí, não. Antes de cair nos braços da dona Cléo, passou ainda no bem-bão da dona Fúlvia e da dona Otávia
– Minha paciente é a Rainha do Nilo!
– Essa sim, viu! Da pá virada... Vida intensa, doutor! Afff...
– Pelo amor do Grande Narigudo, dona Bherta, que falta de compostura científico-moral! Além do mais, criatura...
– Não aprecio quando o doutor me chama assim. Se me dá licença, vou para minha sala fazer...
– DONA BHERTA! Vamos, abra o jogo. O que foi que a senhora resolveu aprontar no meu consultório, dessa vez?
– Foi preciso, doutor Delfino!!! Eu nunca faço por mal. Eu sou do Bem!
– Quantas vezes vou ter que lhe pedir para parar de uma vez por todas de usar minha Máquina do Tempo como se fosse brinquedo?!
Para que?! A mulher colocou as mãos na cintura e eu sabia muito bem o que aquilo queria dizer. Lá viria uma lamúria imensa, uma ladainha infinita sobre “tudo o que ela já fez por mim, por meu consultório, por meus clientes, pelo país e pelo planeta em todas essas décadas em que vem servindo como fiel escudeira de um louco amalucado” e blá-blá-blá... Só para você ter ideia, teve uma vez em que, não satisfeita, subiu no parapeito da janela do consultório e recitou todo o monólogo de Hamlet, usando um dos meus sapatões de estrelas aboboradas à guiza de caveira.
– Eu não faço nada por mal, doutor! O que acontece é que...
– Sim?
– É que, às vezes... não muitas vezes, evidentemente...
– Desembucha logo, dona Bherta!
– Bem, admito que há ocasiões em que me equivoco. #prontofalei
Isso já havia acontecido outras vezes, mas fiz vista grossa. Até porque, nos dias de hoje, não está nada fácil arrumar uma secretária como dona Bherta... quase mãe!
– Qual foi o plano original dessa vez, se é que posso saber?
– Bem, doutor, não sei se, eticamente falando, seria correto eu ferir o sigilo...
– DONA BHERTA!!!!
– Talvez o doutor aceite uma chuva de bolinhos de confetes, antes, com chá de cócegas? Posso preparar num instantinho, não me cus...
– A senhora conhece o caminho do departamento pessoal? – às vezes, o blefe é um ótimo caminho.
– Grosso! Está bem, está bem... eu falo. Mas, antes de mais nada, que fique bem claro que eu só faço tudo por bem, porque eu sou do Bem!
– Qual foi o equívoco, dona Bherta?
– Eu... sabe como é, né, doutor... a gente tem curiosidade! Hihihihi! – odeio quando ela dá essas risadinhas pseudo-pueris! – Então. Eu sempre quis saber, curiosidade feminina, sabe...
– Não saberei até a senhora me dizer...
– Sim, sim, claro, eu sei...
– Então?
– Pois então, essas coisas ninguém conta e o povo fala, passa o tempo, quem conta um conto aumenta um ponto e o conto ganha reconto e perde desconto e aí, o senhor sabe, fim de papo e ponto.
– ...
A mulher já ia se retirando quando flagrei o golpe.
– DONA BHERTA!!!! Por acaso a senhora está vendo um P de “Palhaço” impresso aqui na minha testa?
Ela olhou atenta e demoradamente...
– Na testa não, doutor. Somente em todo o restante.
– Quer me fazer o favor de dizer de uma vez por todas para onde é que a senhora quis ir na minha Máquina do Tempo?
– Está bem, chega. Eu confesso. Vou me sentir mais leve, mais plena, mais mulher depois disso...
– Ai, meu Grande Narigudo!
– Eu nunca aceitei de corpo e alma aquela história de virgindade... quis tirar aquilo tudo a limpo, como o senhor não estava e eu já tinha encerrado meu expediente aqui no consultório, achei que não seria nada mal dar um pulinho lá e ver como as coisas se passaram... Sabe, conferir no tete-a-tete, como se diz hoje em dia!
– Dona Bherta... – congelei. – A senhora não teria...
– Ah, não, o senhor que me desculpe, mas sai pra lá que o charnel aqui é de bofofó! Ou o doutor pensa que eu, aqui, no auge das minhas tantas décadas, ia cair na lorota do anjo que veio e palalá e pololó e tudo ficaria no dito-pelo-não-dito-e-viva-o-benedito?
– A senhora, por favor, tenha mais respeito com a mitologia alheia, porque, se tem coisa que...
– Ora, vamos deixar de lérias, doutor! E o pobre do marceneiro, ninguém quis saber como se sentiu?
– Dona Bherta, por favor! Isso é um terreno perigoso, pode manchar a reputação do meu consultório... Vão falar em desrespeito, posso perder clientes!
– Mas por que isso aconteceria, doutor? Só porque eu quis visitar e conversar com meu tio-avô, que criou o filho que a esposa teve com aquele galego chamado de Anjo?
Por questão de precaução, mandei-a cancelar a terapia de casal de Cleópatra e Marco Antonio e deixar para o futuro a reconciliação de Caim e Abel...

* Doutor Delfino é o alter-ego do escritor Carlos Biaggioli (biaggiolic@yahoo.com.br)

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