A senhorinha entrou na livraria e foi logo pedindo “quero o
Cinquenta tons de cinza”. A idade avançada causou estranheza, os vendedores se
entreolharam, ela mal enxergava, mas percebeu o clima de inquietação.
-Ouvi dizer que o livro é muito bom!
-É, depende o gosto da pessoa, na verdade. Tem gente que
adora e tem gente que odeia.
-Mas ouvi dizer que tá vendendo muito, né?
-Ah sim. Isso sim! É um dos mais vendidos no mundo todo.
Aqui na livraria foi o mais vendido nos últimos meses.
-Então não deve ser ruim.
A senhora segurava os óculos e apertava os olhos enquanto
examinava capas expostas nas prateleiras. O vendedor permanecia parado sem
saber se buscava o livro ou se alertava sobre o conteúdo. Essa história de
sadomasoquismo não parecia a onda a velhinha.
Por um instante ele imaginou a senhorinha centenária
vestindo roupas de couro justinhas e chicote. O salto-alto inflamando as
artrites e repuxando o bico-de-papagaio. Não sabia se ria ou se chorava! Com
aquela idade ela poderia ter um treco e morrer se o livro a assustasse, ou
pior, se a excitasse. Então ele hesitou. Pela sua experiência, de mais de um
século de vida, ela era como um desses jabotis enormes e antigos, cheios de
ranhuras na casca, demonstrando imponência, apesar da fragilidade da idade, mas
acima de tudo, demonstrando entender tudo o que está em sua volta, ainda que em
slow motion.
-Não é para mim não – ela riu – eu mal enxergo, não
conseguiria ler nem se ele viesse com letras de outdoor. É para minha bisneta! Ela é uma menina linda, muito
esperta, adora ler, desenhar e entende muito de combinar cores. E eu aposto que
ela ainda será uma grande estilista!
O rapaz respirou aliviado. A senhora realmente mal conseguia
ler o nome da livraria no letreiro, imagina ler um livro. É claro que seria para
presente, mas que bobagem!
Ele buscou o livro, ela pagou, foi embora para casa enquanto
ele imaginava, agora, a bisneta vestida de couro, uma bota com salto agulha
longos cabelos castanhos dominando os homens a sua volta. Ele quase se
apaixonou.
Enquanto isso, em casa, a bisneta devorava, num canto, o
livro que tinha uma gravata cinza elegante na capa. Ela arregalava os olhos nas
partes mais picantes e fazia caras de nojo. Ela tinha só dez anos e a bisavó
jurava que, se ela aprendesse a combinar os tons de cinza, ela seria uma grande
estilista.
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK ai sim, tadinha da menininha KKKKKKKKKK inocência de vovó kkkkkkkk
ResponderExcluirCarla :D