Google+ O Riso e o Siso: De 14-Bis, Moisés e Gandhi tiram o Sal de Mongaguá...

sábado, 1 de junho de 2013

De 14-Bis, Moisés e Gandhi tiram o Sal de Mongaguá...


por Dr. Delfino Anfilófio Petrúcio*
(palhaço e para-guru filosofático de Quinta Categoria, PhD em Charme, Beleza, Elegância e Gostosura, formado pela Universidade de Modéstia, com pós-graduação em Coisíssima-Nenhuma-e-Algo-Mais)
Dando continuidade a esta equipoplética, para não dizer hermenêutica e escatológica saga, eis que me encontro em meio a um terrível furdúncio no churrasco gentilmente oferecido por meu prestimoso editor, Dom Vespúcio, em sua mansarda de 223 mil metros quadrados de área construída, que trouxe à tona as mazelas sociais da humanidade bípede.
A situação chegara ao cume do descontrole, por conta das incongruências e posturas irrevogáveis e intolerantes entre os que achavam que a carninha tinha que ser temperada com sal grosso e os que defendiam o sal refinado; entre os que defendiam o sal de soja e seus opositores, a turma do sal cru-quase-pingando-sangue; entre os que defendiam os que lhe pagassem melhor e aqueles que não defendiam ninguém-porque-defendendo-morreu-o-burro. E entre todos estava o pobre Da Vinci, cuja cauda já nem mais força tinha para abanar, de tanta fome que sentia em meio àquele disparate humano.
Por conta do próprio Da Vinci, e da exacerbada filosofice de meu amigo Genecésico Fofo Pessoa, que lhe valeu uma contenda com uma senhora que ele acabou fazendo rolar colina abaixo – como também vimos no capítulo anterior –, conseguimos finalmente dar a devida atenção à caixa que minha secretária (que até agora não consigo fazer ideia de como foi que me descobriu, num domingo, em horário de laser, naquele churrasco) trouxe para a propriedade de Dom Vespúcio, contendo minha máquina do Tempo. Assim que foi desparafusada, a máquina, já em funcionamento, colocou diante da estupefação de todos nós ninguém mais do que Gandhi, o mais pop de todos os mahatmas!
– Mas pra que tanto óculos prum sujeitinho tão franzino, doutor?! – expeliu dona Bertha, inconvenientemente como sempre, enquanto Da Vinci ao mesmo tempo rosnava e fungava o líder hindu, que a tudo acompanhava com a respiração bastante acelerada, típica de quem empreendeu um esforço físico fora do comum.
Desde a última experiência desagradável com a aparição do Anjo Gabriel que venho pensando em desmantelar essa maldita máquina, que em tantos apuros tem me colocado, muitos deles por conta dessa minha secretária. Não dá pra esquecer, ainda, o dia em que estava ouvindo Papai Noel, deitado em meu divã, falar sobre sua turbulenta infância e, ao tentar ir ao banheiro sem que ele se desse conta da minha ausência, acabei tropeçando em um de seus sacos de presentes e PIMBA!, caí de cheio em cima da Máquina do Tempo, acionando-a involuntariamente. Fui parar direto no Monte Sinai, bem na hora em que o próprio Deus, quase nas raias do desespero, tentava fazer Moisés escrever direito cada um dos 10 Mandamentos.
– Moisés, seu atrapalhado! Escreva com letras de forma, senão ninguém vai entender essa sua letra, criatura!!!
– Mas, Senhor, não é isso! É que estou confuso...
– Com mil diabos! – vociferou o Onipotente, despertando uma horda de capetas zombeteiros que, para espanto do pobre profeta, cuja visão de futuro ainda não estava tão bem desenvolvida para entender o que se tratava, veio dançar a Macareña ao redor de Moisés, antes de serem expulsos por um raiozinho básico vindo das nuvens em polvorosa nos céus, do meio das quais vinha o vozeirão do Onipresente, que continuou – Que confusão é essa, justamente agora, posso saber?
– Ah, Senhor. Aqui diz: “Não matarás”, né?
– É, a coisa tá uó! Acho que isso será o suficiente pra resolver o pepino todo, não acha? – respondeu o Onisciente, com voz muito esperançosa. – Qual é a sua dúvida?
– Não, não minha, mas do meu neto. Ele me falou: “Vô, se não pode matar, por que é que, então, Deus tira a nossa vida?”...
Raios e relâmpagos e trovoadas vieram mostrar com eloquência a opinião do Criador sobre a dúvida do fedelho. E foi ao fugir de um desses raios e tentar me esconder atrás daquela pedra esverdeada do lado direito, bem próximo da Tábua dos Mandamentos, que fui descoberto pelo Criador e seu Profeta.
– Uepa!!! – gritou Moisés. – Eu tenho exclusividade no evento, aqui. Nada de testemunhas...
– Tudo bem, senhores, tudo bem. Estou só de passagem e...
Quando Moisés ergueu o seu cajado na minha direção, vi que o melhor a fazer era pular pra dentro da máquina e retornar a tempo de dar o fidebéque que Noel sempre gostava de ter, antes de retornar ao Polo Norte, onde mantinha uma holding de empresas fornecedoras de gelo para o mundo inteiro.
Roubadas desse tipo eu as tenho a mancheia...
Vocês nunca farão ideia do que vivi quando dona Bherta, debaixo dos seus 18 graus de miopia controlada, resolveu ela mesma digitar os dados para me levar a uma breve consulta solicitada por Calígula, algo sobre o que, evidentemente, não posso eticamente abrir aqui, mas que girava em torno de seu caso mal pensado com sua irmã Drusila. Tudo bem calculadinho, eu faria a sessão do despudorado e rapidamente retornaria a tempo de atender a terapia de casal de Almadinejah e Lula. Teria dado certo se a miopia de dona Bherta não tivesse me feito cair sentado bem sobre a asa do 14 Bis, em pleno voo sobre Paris, que vexame fenomenal em plena Cidade Luz!
Mas isso são águas passadas...
Agora, ali, no churrasco em casa de Dom Vespúcio, trincado de fome e quase arrastado pelo focinho desesperado de Da Vinci, que queria porque queria que eu desse um desfecho para aquela melotragicomédia dantesca, eu me deparava com mais uma de dona Bherta, diante do Mahatma Gandhi, que simpaticamente agachou-se e aplicou uma bênção no em Da Vinci, que por bem pouco não lhe fez dormir um pouco, enquanto não saía a boia...
– A não-violência e a covardia não combinam – começou ele, bem provavelmente por conta de uma flatulência exagerada que dois garotos infernais expeliram contra a bancada dos apoiadores do Sal Refinado. – Posso imaginar um homem armado até os dentes que no fundo é um covarde. – continuou o mahatma, tentando acalmar a senhora que retornara do rolo colina abaixo e, com sua sombrinha serial-killer, corria atrás de Genecésico Fofo Pessoa. – A posse de armas insinua um elemento de medo, se não mesmo de covardia – Essa frase do líder hindu (digna de postagem em rede social) não foi, contudo, dirigida à mesma e tresloucada senhora, mas, sim, à sogra de Dom Vespúcio, que o ameaçava de publicar na rede mundial de computadores suas fotos nadando em Mongaguá de sunguinha cor-de-rosa e bóia de patinho lilás-bordô. Então, Gandhi concluiu, magistralmente, apontando austeramente o próprio indicador ao fucinho de Da Vinci, que havia despertado e lhe mosdiscava a canela fina: – Mas a verdadeira não-violência é uma impossibilidade sem a posse de um destemor inflexível.
Da Vinci choramingou, enfiando o rabo entras as pernas e o focinho entre as patas e o povo, pela primeira vez, uniu-se em uma ovação ao líder que trouxera a paz ao churrasco de Dom Vespúcio.
– Que águas são aquelas? – perguntou o mahatma.
– Do mar da Praia Vera Cruz, ô guru! – respondeu um gordão, rindo só com dois dentes em baixo. – Vai arriscá um mergúio, vai?
– Sigam-me. Vamos tirar o sal daquelas águas...
(to be continued)
* Doutor Delfino é o alter-ego do escritor Carlos Biaggioli (biaggiolic@yahoo.com.br)


Continuação de:

Da Vinci na Babel do Tempero...

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