Há algumas
semanas me mudei. No meu andar só meu apartamento e o da frente estão ocupados, o
resto passa por acabamento. Cada propaganda colocada em baixo da minha porta
possui irmão gêmeo na porta do vizinho, mas com uma diferença: a dele costuma
fugir para o meio do hall.
Sempre foge!
Aliás, ele detesta papel, pelo que percebi, porque ele sempre mete bicuda e
devolve pra fora tudo que entra por baixo da porta. Menos contas e correspondência
importante, porque ele é louco, mas não é burro...
Engraçado que
tudo sempre é posto de forma a parecer que saiu da porta ao lado (um
apartamento vazio). Um dia é folheto de pizzaria, no outro é de gesso, no outro
é uma sacola com lixo de cozinha e na outra de banheiro.
“Amigo, é claro que se não fui eu, foi você.
Não adianta botar lixo na frente do apartamento vazio!” Será que ele não se
tocou que estamos só nós dois nesse andar?
Chego, numa bela
tarde de feriadão, nublado e frio, recuperando de uma gripe, acompanhado de
visitas e, ao descer do elevador SURPRESA!!! Uma caixinha de papelão, desmontada, de taças de champagne, mezzo na porta dele, mezzo
na porta do apartamento vazio. Você olha praquilo,
tenta se esticar, finge estar espreguiçando, faz marcação cerrada cobrindo a passagem
com o corpo e indicando o caminho para seu apartamento, para a visita não
imaginar que você mora no andar da reciclagem.
“Olha que legal,
bicho! No seu prédio tem um andar para a coleta seletiva! E você mora nele! É
mais barato? Ou você tá trabalhando com isso agora?”
Mas o esforço
não adianta, você percebe que o olhar dela deu um drible da vaca, jogou pela
esquerda e passou por cima do ombro direito. Não teve jeito.
-Ah, não liga
pra isso, meu vizinho é um porco!
Na mesma hora a
assombração da reciclagem destranca a porta, as duas chaves tetras e mais a
correntinha e sai tão rápido do apartamento, que você pensa “uau, esse cara faz
números de mágica em Las Vegas”.
-Porco é teu
pai, olha como você fala!
-Não me lembro
de ter falado com você. Minha conversa é com a minha visita.
-Mas você me
xingou, eu ouvi bem.
-Você fica
escutando atrás da porta quando a gente sai do elevador?
-Não, é que você
falou alto!
-Bom, não
importa, não falei com você, de qualquer forma.
-Mas falou de
mim!
-Não citei seu
nome, como você sabe disso?
-Oras, não dê
uma de idiota! Só moramos nós dois nesse andar! Esses outros estão vazios.
-Ahh quer dizer
que agora você lembrou que só nós dois moramos aqui? Se não fui eu quem jogou o
lixo no hall...
Da mesma forma
que ele saiu, voltou repentinamente para o apartamento como num passe de
mágica. Esse vizinho tem talento!
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