Google+ O Riso e o Siso: Conto macabro de Natal

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Conto macabro de Natal

Depois de muita prece, cartinhas, telegramas e indicação da ONU, Papai Noel resolveu visitar o Brasil. É que o clima lá tava estranho, todo mundo muito individualista, egoísta, competitivo. O país tava ganhando importância no cenário mundial - uns poucos lucrando com Copa e Olimpíadas e outro tanto contente por isso, enquanto passavam a perna no barraco vizinho por alguns centavos a mais na conta.
O fato é que numa reunião de alta cúpula, ou talvez alta cópula (porque, quando essa gente se reúne é pra nos foder) decidiram somar esforços para trazer Papai Noel. "Dá o que esse velho quiser, mas ele tem que vir pra cá, fomentar a esperança, estimular a fraternidade, enternecer-nos com o espírito cristão" - disse o manda-chuva. E foi feito!
Por piedade, benevolência, espírito cristão e cem mil dólares na conta, o bom velhinho aportou em terras de Pindorama, com um trenó mágico, algumas renas e uma anacrônica afetuosidade. O  modelito vermelho com bordas de pelo branco, completamente inadequado ao calor da terra, despertava comentários; dada a idade avançada, a pança e o serviço a ser prestado, ninguém botou fé: "Logo esse velho vai ter um treco", "Deve estar cozido embaixo dessa roupa", "imagina o futum". Todos profetizavam seu fracasso.
E por onde começar?
A alta cópula decidiu: vamos para o lugar mais carente, com as maiores mazelas, criminalidade, egoísmo, indecência e podridão. Por engano, indicaram o coração do Plano Piloto, mas logo o trenó voador, objeto voador não identificado, foi rechaçado pela FAB por voar em espaço aéreo restrito, sem permissão. É que a burocracia atrasou a licença para aquele trajeto, alguém não tinha recebido a propina.
Aconteceu do bom velhinho ser obrigado a descer em um lugar qualquer, perdido pelo caminho, mas incrivelmente semelhante ao destino proposto. Lugar vil, pessoas mesquinhas, vizinhança podre e competitiva, onde o mais certinho ali vendeu um rim da mãe pra trocar o Playstation. Era cada um por si e Deus por fora (nem Deus se metia naquele lugar: um condomínio de luxo). O trabalho seria árduo.
No dia 25 de dezembro ouviu-se a seguinte notícia:
Bandido vestido de Papai Noel é morto na noite de Natal.
Em meio às descrições detalhadas da ação do bandido e dos condôminos, depoimentos e testemunhos da ousadia do velho:
"Ele tava em cima do telhado, eu ouvi", disse um, "ouvi ele, era ele sim! Gritei pega ladrão!", atestou o outro, "Esse bandido, safado, asqueroso, tava andando no meu telhado, ouvi os passos dele, era perto da meia-noite, não deu outra, saí lá fora e mandei-lhe uma tijolada na testa. Ele caiu, rolou, tentou levantar, subiu no telhado do vizinho, que aliás é outro bandido filho da puta, até pensei que fosse ele. Daí já percebi que meu vizinho tava dentro de casa e também saiu com um pedaço de pau. A gritaria e a confusão chamou o resto da vizinhança pra fora". 
Foi uma perseguição brutal até altas horas da madrugada. Com paus e pedras na mão a vizinhança se uniu para linchar o invasor noturno. Serviço concluído com êxito! Papai Noel conseguiu unir a vizinhança!

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