Google+ O Riso e o Siso: Rótulos na testa

terça-feira, 11 de junho de 2013

Rótulos na testa



O homem entrou algemado na sala de interrogações. Com as mãos para trás foi posto numa cadeira de uma mesinha no centro. Sobre a mesa pendia uma luminária que focava a luz apenas para baixo, deixando todo o resto da sala na obscuridade. Não se via, mas percebia-se que havia mais gente em pé em volta da mesa preenchendo as sombras nos cantos da sala.

O delegado entrou, pisando firme, arregaçando as mangas, era enorme, só se via sua linha de cintura, mas ele bufava.

-É esse o vagabundo?
-Sim, senhor – disse uma voz num dos cantos escuros.
-Como é seu nome? – o delegado se apoiava sobre a mesa para intimidar o interrogado com seu tamanho.
-Jaques, senhor.
-Jaques? O delegado gritou – Jaques de quê? Um cabecinha chata com um nome francês? Tu é viado, Jaques?
-Não, senhor. Em Pernambuco teve colonização francesa.

Um tapa calou-lhe a boca.

-Seu cabecinha-chata de merda, acha que vai me dar aula de história agora? Tu é viado, Jaques, todo mundo sabe! Tu é viado!
-Sim, senhor.
-Diz qual foi seu crime, Jaques?
-Nenhum, senhor, só vim dar queixa na delegacia e me prenderam.
Outro tapa interrompeu a frase.
-Jaques, Jaques, Jaques! Acha que meus homens iriam te prender a troco de nada, Jaques? Você tem cara de criminoso, Jaques. Todo mundo sabe, você é criminoso, Jaques! Jaques, você é criminoso?
-Sim, senhor.
-O que você fez, Jaques?
-Na verdade eu sou professor, fui agredido por um aluno...
-Professor, Jaques? Você é professor? Que professor que nada, seu merda! Você não é professor coisíssima nenhuma! Você tá vendo escrito “idiota” na minha testa, tá? Você tá lendo “imbecil”? “Estúpido”?
-Não, senhor!
-Pois é, Jaques. Todo mundo sabe que você é um analfabeto...

Nesse momento, um risinho no escuro interrompeu o interrogatório...

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